Dias depois da retirada dos idosos, o lar começou a ser alvo de desinfeção e de obras.
Corpo do artigo
Os membros da Comissão de Inquérito da Ordem dos Médicos que fizeram o relatório sobre o lar de Reguengos de Monsaraz não tiveram permissão para visitar as instalações durante a realização do inquérito, nem tiveram resposta ao pedido para aceder ao relatório de avaliação da situação inicial feito pela Autoridade de Saúde.
Estas são duas limitações que o relatório, a que a TSF teve acesso, explica que existiram ao longo da investigação.
O surto foi detetado a 18 de junho e, nos primeiros tempos, os doentes ficaram nas instalações do lar, sendo transferidos a 3 de julho para o Pavilhão do Parque de Feiras e Exposições do concelho.
A visita da Comissão de Inquérito da Ordem aconteceu 13 dias depois e o relatório detalha que "não foi possível efetuar visita às instalações do lar (apenas às do pavilhão)".
A justificação apresentada pelos responsáveis do lar, gerido pela Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva - por sua vez presidida pelo presidente da Câmara Municipal -, foi que "o edifício estaria em desinfeção e remodelação".
Os relatos das condições físicas do lar, também criticadas no relatório, baseiam-se, assim, em relatos de médicos que estiveram no local durante o surto, com fonte ligada ao inquérito da Ordem dos Médicos a admitir que acharam estranho tanta pressa em avançar para obras.
A Ordem tentou igualmente documentar-se sobre as condições que existiam no lar antes do surto de Covid-19, mas todas as testemunhas ouvidas preferiram manter o anonimato e o relatório acabou por não incluir esses relatos.
A TSF apurou que em causa estão funcionários, ex-funcionários e familiares de idosos e que existiam relatos que não eram positivos para o lar.
Por outro lado, o relatório explica que não foi possível ter acesso ao relatório da avaliação inicial da situação, no lar, pela Autoridade de Saúde, sendo neste documento que estará a "caracterização do perfil de saúde de cada utente e decisão sobre abordagem clínica" mal foi detetado o surto.
A Comissão de Inquérito foi informada pelas autoridades que este documento existia e pediu-o ao Delegado de Saúde Coordenador (responsável pela execução do relatório) que disse que o mesmo tinha de ser solicitado ao presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo.
À data do fecho do relatório, 4 de agosto, a resposta a este pedido ainda não tinha chegado e fonte da Ordem dos Médicos confirma à TSF que até agora, 19 de agosto, continuam à espera, não existindo a certeza se existe mesmo esse relatório de avaliação inicial.
Recorde-se que o surto de Covid-19 no lar de Reguengos de Monsaraz matou 18 pessoas.
12534585