Como o surto num lar está a afetar o turismo e o vinho de Reguengos de Monsaraz
A região já está a sofrer o impacto do foco de Covid-19, com restaurantes e o enoturismo a registar quedas de 70 a 80%.
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O surto de Covid-19 que atingiu um lar de Reguengos de Monsaraz provocou uma espécie de depressão entre os dois principais setores da economia do concelho. O turismo e o vinho registam quebras assinaláveis, quando há menos de mês se admitia poder estar pela frente o melhor verão de sempre.
A praia de Monsaraz, na albufeira de Alqueva, abriu a 10 de junho com enchente e boas perspetivas para a época balnear. Admitia-se que poderia estar na calha o melhor verão de sempre. Quem o diz é Filipe Ferro, proprietário da Alqueva Cruzeiros, empresa dedicada às atividades náuticas. "As pessoas estavam ávidas para saírem e virem à praia. Isto ficou cheio de repente e nem tínhamos condições para satisfazer todos os pedidos. O telefone não parava de tocar", relata.
Mas os casos positivos de Covid-19 que dispararam em Reguengos de Monsaraz - apesar de estarem a cerca de 15 quilómetros de distância - mudaram o cenário. Há um mês admitia-se que as quase duas mil camas que formam a capacidade hoteleira do concelho alentejano estariam esgotadas para julho e agosto.
Porém, agora estão mais de 30 graus e a praia fluvial Monsaraz exibe um resultado desanimador para o empresário. "Já é meio-dia e ainda não fiz nada. Posso dizer que tenho uma quebra de 90%. É esperar e ter esperança que as coisas melhorem", assume.
Mas nem só os negócios junto a Alqueva estão a sentir os efeitos do surto que atingiu um lar de idosos de Reguengos, onde na quarta-feira se registavam 15 mortes e 133 casos ativos. A restauração mais interior também faz contas à vida, como acontece com Guilherme Amador.
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O gerente da Adega do Cachete, na freguesia de São Pedro do Corval, deveria estar a servir migas com carne do alguidar e queixadas de porco preto a uma sala cheia. Longe disso. "Estou aqui há 15 anos e em nenhum domingo tinha servido só quatro almoços, como agora aconteceu", diz à TSF, apontando a um prejuízo que se estende até aos 70%. "Deveria estar a ser a época alta, mas nem em janeiro, que costuma ser o pior mês, tive tão poucos clientes", lamenta, admitindo que em julho já será difícil recuperar, depositando fé de que "talvez agosto traga melhores notícias".
E com os restaurantes em crise, os vinhos, que são o outro músculo da economia reguenguense, também encaram dificuldades. O gestor da Adega da Ervideira, Duarte Leal da Costa, aponta a uma queda entre 35 a 40% nas vendas, enquanto assume que os tempos são de adaptação aos novos desafios.
"Vamos vendendo um pouco na exportação e no online. Todo o grupo tem que se saber adaptar a sermos mais pequenos, a sermos mais pobres", admite, numa altura em que enoturismo, que por aqui tem o seu espaço, também não escapa as notícias da pandemia. "O enoturismo, então, está pior e caiu uns 80%", revela.
Ainda assim, sempre há alguém que aparece para conhecer a adega e provar os vinhos da casa, como é caso de Daniela Sá, que acaba de chegar de Lisboa. "Com máscara e as devidas cautelas vimos confiantes ao Alentejo para conhecer os vinhos nacionais", avança.
Perante o estado que crise que atravessa o concelho devido ao impacto do surto do novo coronavírus, a Câmara de Reguengos Monsaraz assume a preocupação, alertando que tem um caderno repleto de medidas excecionais para o relançamento económico e social.
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