"Congelamento de rendas é como a droga." Inquilinos e proprietários sem pistas sobre intenções do Governo
O Governo português deve anunciar se retoma a medida dentro de um mês.
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O Governo mantém o silêncio sobre as rendas, mas do lado de quem vive em casa arrendada, António Machado, da Associação dos Inquilinos Lisbonenses, nem quer imaginar o que seria se o Executivo permitisse aumentos próximos dos 7% no próximo ano.
"O Governo tem de ter em conta que os aumentos salariais e as pensões não atingiram estes valores. Não tem sentido nenhum atualizar as rendas, ainda menos as rendas dos contratos celebrados este ano. O aumento das rendas devia ser pura e simplesmente nulo, zero. Nem 1, 2 ou 3%. Naturalmente que o Governo não está disponível para fazer isto. Não temos notícias, indicação nem contacto nenhum por parte do Governo para discutir esta matéria", revelou à TSF António Machado.
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Também sem qualquer pista sobre o que o Governo pretende fazer, Menezes Leitão, da Associação Lisbonense De Proprietários, questiona se não basta a prova de que o travão às rendas não funciona depois do que se viu durante o corrente ano. Além disso considera que 6,9% é muito pouco para compensar os senhorios.
"Em julho passado questionámos o Governo sobre se há ou não intenção de travar a subida das rendas porque, a nosso ver, a situação seria muito prejudicial para o arrendamento se voltasse a ser repetido o travão. Esta subida em baixa comparada com a subida dos preços das casas, que é dez vezes superior se falarmos das prestações das casas aos bancos. No ano passado foi feito e provocou que o arrendamento desaparecesse ou houvessem menos casas no mercado e, em consequência disso, que até as rendas subissem para os novos contratos", explicou Menezes Leitão.
Quanto ao facto de países como a Alemanha, primeiro, e agora a Áustria estarem a optar pelo congelamento das rendas para combater a crise na habitação dos respetivos países, Menezes Leitão afirma que alemães e austríacos nem sabem o que os espera. Como os portugueses não sabiam, há cem anos, quando Salazar congelou as rendas.
"O que todos dizem é que o congelamento de rendas é como a droga, quando se metem nisso, ninguém consegue sair de lá. Os resultados que tivemos da experiência em Portugal foram casas desfeitas porque os senhorios não tinham rendimento para as reabilitar, os centros urbanos desertos e a ausência total de arrendamento porque ninguém quer ficar metido numa armadilha de rendas congeladas. Se esses países se meterem nesta experiência vão ver o resultado. Portugal já tem essa experiência, portanto deveria haver bom senso para não entrar nesse caminho, mas infelizmente, como já bem disse o vice-presidente do PSD, o Governo está a adotar políticas do tempo de Salazar, mas no tempo de Salazar não havia inflação", acrescentou o responsável da Associação Lisbonense De Proprietários.
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O Governo português deve anunciar se retoma a medida dentro de um mês. A TSF já tentou contactar o Ministério da Habitação, mas ainda sem resultado.