Covid-19 em Portugal: daqui a dois meses "já estaremos melhor", difícil será "mantermo-nos melhor"
Quando vamos achatar a curva? Especialista lembra que projeções não podem ser vistos como uma garantia do que vai acontecer.
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O epidemiologista Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, considera expectável que dentro de dois meses as medidas do novo confinamento já tenham surtido efeitos positivos.
O especialista desvaloriza, assim, o facto dos peritos do Infarmed terem de refazer as projeções que apontavam um prazo inferior até Portugal voltar a ter um cenário idêntico ao que se registava antes do Natal, no que diz respeito aos números diários de mortes e novos contágios.
Na reunião no Infarmed sobre a situação epidemiológica em Portugal, na última terça-feira, os especialistas apresentaram projeções sobre o que aconteceria se houvesse uma desaceleração do número de novos casos, inspirada naquilo que aconteceu na primeira vaga da epidemia.
Para passar aos sete mil casos diários de Covid-19 seriam necessárias aproximadamente três semanas, assumindo uma descida média semelhante à da primeira vaga, estimava, na altura, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes. Já até ao país regredir para 3.500 casos diários seriam precisos mais de dois meses.
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Contudo, como o novo confinamento é mais brando do que o de março de 2020, com mais exceções ao dever de recolhimento domiciliário e escolas abertas, a descida de casos de contágio será provavelmente mais lenta o prevista na reunião no Infarmed.
Segundo a TSF apurou, novas medidas anunciadas pelo Governo obrigarão os especialistas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa a refazer os cálculos e a fazer novas projeções que serão apresentadas na próxima reunião no Infarmed.
Henrique Barros lembra que estas projeções são feitas com uma grande margem, por isso aos números estimados não podem ser vistos como uma garantia do que vai acontecer. "Os intervalos de variação das estimativas feitas são brutalmente largos", ressalva.
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O epidemiologista diz que é possível "já estarmos melhor" em menos de dois meses, mas será difícil "mantermo-nos melhor", ou seja, achatar a curva longo prazo. "Vai depender da nossa capacidade de não esquecer que somos parte fundamental desta resposta e manter as medidas de proteção indivduais, porque sem isso haverá um ricochete e os números vão voltar a subir".
É essencial "não desvalorizar sintomas e ter a noção que as nossas casas não nos protegem mais" - mesmo em confinamento, os cuidados não podem ser desvalorizados, lembra.
O presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto comenta ainda a informação avançada pelo Jornal de Notícias de que 95% dos profissionais de saúde do São João já vacinados contra a Covid-19 ganharam anticorpos 15 dias após a inoculação.
Henrique Barros considera esta uma boa notícia, mas nota que já era esperada e nada diz sobre a eficácia da vacina. "Apenas quer dizer que a vacina, nos primeiros dias pós-vacinação, como é esperado, criou uma resposta imunitária", explica.
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