A escola Poeta Emiliano da Costa, em Estoi, concelho de Faro, é um dos muitos estabelecimentos de ensino que recebeu crianças ucranianas refugiadas da guerra.
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Os dois jovens entram na sala. São gémeos, rostos muito semelhantes e altos para os seus 13 anos. Têm rostos fechados e tristes. Mostram-se tímidos. A professora Paula Freitas, docente de Português Língua Não Materna (PLNM), acompanha-os desde o primeiro dia. Com a psicóloga Rita Cercas, foi buscá-los ao autocarro que os trouxe da Ucrânia. "Nesse dia tínhamos a aula às 08h30 e fizemos logo a integração", relembra. "Realizámos jogos de dinâmica de grupo para eles se integrarem e convidámos um aluno ucraniano que está há bastante tempo na escola e fala português para ajudar, bem como uma aluna russa", conta. "Foi muito engraçado porque a turma parecia que já os conhecia."
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Denis é o jovem que serve de tradutor. Filho de pais ucranianos, já nasceu em Portugal. Pedimos-lhe que pergunte aos gémeos o que tem sido mais difícil na sua integração. Após uma breve troca de palavra explica que "eles dizem que a tradução para português era o mais difícil, porque não sabiam falar nada, zero". No entanto, um dos meninos refugiados ensaia já algumas palavras, depois de lhe perguntar o que já sabe dizer. E com uma boa pronúncia. "Bom dia, boa tarde, boa noite, escola, desculpa, olá...", diz.
O currículo da escola foi ajustado aos alunos ucranianos. Não têm disciplinas como história, por exemplo, insistem no português, mas estão à frente dos seus colegas no que diz respeito à matemática. "Eles são muito empenhados, querem muito aprender", garante Paula Freitas. A psicóloga da escola, que também acompanha estes alunos desde o primeiro momento, conta que eles chegaram a Portugal apenas com a mãe. São meninos que falam pouco do passado e da família. "Mesmo que se pergunte, é algo de que eles não querem falar", explica Rita Cercas. "Uma coisa que notamos é que já adquiriram capacidade para sorrir", adianta. O que não acontecia quando chegaram a Portugal.
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A escola Poeta Emiliano da Costa, na freguesia rural de Estoi, faz parte do agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa que tem cerca de dez crianças refugiadas. Ali, todos tentam integrar da melhor forma estes dois jovens, mas, mesmo assim, o desejo que os dois meninos mostram é o de voltar rapidamente para a Ucrânia. "Eles dizem que querem voltar para a Ucrânia porque é a casa deles e têm saudades", remata Denis.