
Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros russo
EPA
Sergei Lavrov sublinha que "os países ocidentes criaram uma tonelada de problemas ao fechar os seus portos para navios russos, cortando cadeias logísticas e financeiras".
A Rússia disse na terça-feira apenas Kiev e o Ocidente podem agir para permitir as exportações de cereais ucranianos e russos, bloqueados desde o início da invasão russa da Ucrânia e que aumentam o risco de uma crise alimentar global.
"Os países ocidentais, que criaram uma tonelada de problemas ao fechar os seus portos para navios russos, cortando cadeias logísticas e financeiras, precisam de pensar muito sobre o que é mais importante", realçou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, numa referência às sanções contra Moscovo.
Para o governante russo, o Ocidente pode "divulgar a questão da segurança alimentar" ou "resolver esse problema com medidas concretas".
"A bola está do lado deles", salientou Lavrov, durante uma visita ao Bahrein.
Sergei Lavrov pediu ainda à Ucrânia, que enfrenta a invasão russa há três meses, para desminar as suas águas territoriais à volta dos seus portos, para permitir que navios carregados de cereais passem pelo mar Negro.
"Se o problema da desminagem for resolvido (...), as forças navais russas garantirão a passagem desimpedida desses navios para o mar Mediterrâneo e depois para os seus destinos", assegurou Lavrov.
O conflito na Ucrânia perturbou o equilíbrio alimentar global e está a levantar temores de uma crise que afetará em particular os países mais pobres.
A Ucrânia, grande exportadora de cereais, especialmente milho e trigo, tem a sua produção bloqueada devido aos combates.
Por sua vez, a Rússia, outra potência neste setor, não pode vender a sua produção e os seus fertilizantes por causa das sanções ocidentais que afetam os setores financeiro e logístico. Os dois países produzem um terço do trigo do mundo.
Na segunda-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que está preparado para trabalhar com a Turquia para garantir o movimento de mercadorias no mar Negro, incluindo os cereais da Ucrânia.
Já a ONU descreveu hoje como "construtivas" as conversas mantidas na segunda-feira com o governo russo para tentar facilitar as exportações de alimentos e fertilizantes do país.
A secretária-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan, reuniu-se na segunda-feira em Moscovo com o vice-primeiro-ministro russo, Andréi Belousov, e esta terça-feira viajou a Washington para manter reuniões com autoridades norte-americanas, divulgou hoje o organismo.
"O objetivo das negociações, como dissemos, está focado em facilitar os cereais e fertilizantes russos aos mercados globais para responder à crescente insegurança alimentar", explicou o porta-voz Stéphane Dujarric.
A responsável da UNCTAD assumiu a liderança nesta matéria em nome do secretário-geral da ONU, António Guterres, que há semanas que tenta promover um acordo mais amplo que inclua também alimentos ucranianos, básicos para alguns dos países mais pobres no mundo, onde o problema da fome está se tornando mais complicado.
De acordo com várias estimativas, a Ucrânia tem nos seus silos cerca de 22 milhões de toneladas de cereais que não pode levar para fora do país como resultado do conflito, já que a Rússia bloqueia o mar Negro e os portos ucranianos foram minados para impedir o desembarque das forças russas.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo seguiu hoje para Riade, capital da Arábia Saudita, para um encontro com o homólogo saudita, o príncipe Faisal bin Farhan, e o chefe da Organização de Cooperação Islâmica, com sede no reino, revelou a sua porta-voz, Maria Zakharova.
Lavrov deve encontrar-se com os ministros dos Negócios Estrangeiros do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) na quarta-feira.
A organização, com sede em Riade, inclui membros-chave da aliança petrolífera OPEP+, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) juntamente com a aliança que este grupo assinou em 2021 com dez produtores externos, incluindo a Rússia.
Apesar da pressão de Washington, que quer um aumento na produção de petróleo para acalmar os preços da energia, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos mostraram o seu compromisso para com a OPEP+, distanciando-se do seu parceiro tradicional, os Estados Unidos.
A Rússia lançou, em 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de quatro mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A guerra causou a fuga de mais de oito milhões de pessoas, das quais mais de 6,8 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.