Da urgência para os centros de saúde? "Empurrar doentes daqui para acolá" não resolve problemas
Associação de Medicina Geral e Familiar defende que "sem os recursos necessários, é impossível que todo o sistema funcione". Além de mais meios, médicos pedem que se invista na literacia dos doentes.
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Os médicos de família pedem mais meios os centros de saúde que vão passar a receber os doentes das urgências com pulseiras azuis e verdes. Sem esse reforço, avisa o vice-presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar, os centros de saúde podem ficar "ainda mais saturados" e o problema acaba por não se resolver.
"Temos de ter cuidado porque transferir esses doentes para os cuidados de saúde primários ainda vai saturar mais o trabalho nos centros de saúde", afirma à TSF António Luz Pereira, reagindo à circular normativa da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que entrou em vigor no final da última semana.
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O responsável alerta que há que ter "noção" que a grande maioria dos doentes - mais de 80% - já recorre aos cuidados de saúde primários e que só "uma pequena parte" vai à urgência.
"Claro que esse número é elevado, mas também temos de ter consciência que os cuidados de saúde primários também são limitados e vemos isso, recentemente, com o número de vagas para médicos de família que não são ocupadas", assinala.
António Luz Pereira reforça que "sem os recursos necessários é impossível que todo o sistema funcione". "Quando os cuidados de saúde primários não funcionam, não têm os recursos adequados, todo o resto do sistema acaba por sofrer. Vamos empurrando os doentes daqui para acolá", constata.
Além disso, explica, muitas vezes, os doentes mais complexos, que já são seguidos a nível hospitalar, têm dificuldade em contactar o seu médico assistente para fazer a gestão da doença crónica. Nesses casos, "a única solução que temos é enviar o doente para a urgência" para que possa ser visto pelo seu médico "em tempo útil".
"Víamos com bons olhos que houvesse também uma via verde para os doentes que já são seguidos a nível hospitalar e que precisam de uma reavaliação mais próxima", sugere.
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Para solucionar os problemas, defende o responsável, não bastam circulares: "É necessário investir na literacia dos doentes". "Se a SNS24 desse a orientação correta", exemplifica, tudo funcionaria melhor.
Isto porque "temos doentes que, apesar de estarem doentes, não necessitariam de ir à urgência" e, por outro lado, doentes que recorrem ao centro de saúde "quando o seu critério não justifica uma avaliação médica".
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