Na Basílica da Estrela, milhares de flores, entregues por amigos e dezenas de personalidades da vida pública e política, serviram para prestar homenagem a Almeida Santos.
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Em tarde e noite de chuva intensa, ninguém quis faltar à homenagem ao histórico socialista, mas, em particular, ao homem que muitos definiram como "singular" e "ímpar" na vida política e pública portuguesa.
Diante das câmaras e dos microfones, ou mais discretos, anónimos, governantes e ex-governantes, agentes culturais, personalidades mais ou menos ligadas à vida política, homens e mulheres socialistas e de muitas outras cores partidárias, despediram-se de António Almeida Santos.
Em discursos em que não raras vezes ficou sublinhado o lado "humanista", quase sempre marcaram presença palavras como "generosidade", "amizade" e "solidariedade", que levaram dezenas a querer homenagear Almeida Santos e a família do presidente honorário do PS.
Descrito como "amigo" e alguém "sempre pronto a ajudar", o antigo presidente da Assembleia da República foi ainda recordado como um homem com "diversas facetas" e "um grande talento" que o levou ao sucesso em áreas como a política e o direito, mas também na cultura e na escrita.
Com mais de duas dezenas de livros publicados - entre os quais alguns contos - são muitos os que o lembram como um apaixonado pela escrita e pela poesia. Da descolonização à ecologia, passando pelo direito, lusofonia, globalização ou, claro, a política, foram vários os temas abordados por Almeida Santos, que, nos últimos anos, dedicou ainda mais do seu tempo às letras e à reflexão.
José Sócrates, antigo primeiro-ministro, que chegou à Basílica da Estrela acompanhado de António Campos, um dos fundadores do Partido Socialista, recorda o último encontro com o presidente honorário do PS: "Foi oferecer-me um exemplar de "Os Lusíadas" e eu ofereci-lhe um livro de um filósofo que tinha acabado de ler". Ao entregar o exemplar, conta José Sócrates, uma dedicatória: "Aqui vai alguma coisinha de esquerda".
"Tinha também uma dimensão literária e poética que muito poucos lhe conhecem", sublinhou, à saída de uma das capelas da Basílica, a social-democrata e ex-presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, depois de afirmar Almeida Santos como um "trabalhador nato".
Com o cair da noite, o local onde o corpo do histórico socialista se encontra em câmara ardente, e onde não foi esquecida a bandeira da Associação Académica de Coimbra - cidade onde se licenciou e clube do qual foi sócio e dirigente -, não faltaram à homenagem figuras como António Guterres, Freitas do Amaral, Maria de Belém, Manuel Alegre, Sampaio da Nóvoa, Pedro Passos Coelho ou António Vitorino.
Ferro Rodrigues, atual presidente da Assembleia da República e amigo, salientou: "Deixa o legado de alguém que, na política, procurou introduzir a cultura e os valores da amizade, da solidariedade e da capacidade de não fazer inimigos".
O funeral de Almeida Santos realiza-se, esta quarta-feira, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, pelas 14 horas.