"Difamação vil." Boaventura Sousa Santos nega acusações de assédio e avança com queixa-crime
O sociólogo garante que está inocente das acusações de que é alvo por três mulheres.
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O sociólogo Boaventura Sousa Santos anunciou, esta quarta-feira, que vai apresentar uma queixa-crime contra as investigadoras que o acusam de assédio sexual e fala numa "difamação anónima, vergonhosa e vil".
Adepto de cartas abertas, o professor voltou a recorrer a este modelo de mensagem, a que deu o título de "Diário de uma difamação -1", para insistir que está inocente e ir até um pouco mais longe. Afirma que só reuniu com uma das três investigadoras que o acusam - a autora belga - e por duas vezes.
Segundo Boaventura Sousa Santos, em ambos os casos tratou-se de reuniões de trabalho. A primeira como supervisor do estágio, mal chegou ao Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. A segunda reunião decorreu a pedido do diretor executivo deste centro que, de acordo com o professor, abriu a esta investigadora um processo disciplinar.
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Sem explicitar a razão do processo disciplinar, Boaventura Sousa Santos escreve que Lieselotte Viaene, a investigadora belga, tinha problemas comportamentais. Tinha um "comportamento incorreto e indisciplinado". De tal forma que o sociólogo não aceitou que a mulher indicasse o Centro de Estudos Sociais como instituição de acolhimento na candidatura a outro projeto académico.
A TSF tentou contactar o professor, que não esteve disponível para atender o telefone, mas nesta carta aberta mostra-se disponível para dar todos os esclarecimentos que lhe sejam pedidos, quer no âmbito de processos internos, que já foram abertos, quer em eventuais processos judiciais e avança com processos-crime por difamação contra todas as investigadoras que o acusam de assédio sexual.
"Declaro-me disponível para dar todas as informações e prestar todos os esclarecimentos que me sejam pedidos, quer no âmbito do processo judicial, quer no âmbito dos processos internos, que o CES certamente vai pôr em movimento", afirma Boaventura de Sousa Santos na carta enviada a todos os membros daquele centro de investigação de Coimbra.
Para o diretor emérito, "o CES é uma grande instituição, que granjeou merecidamente prestígio tanto nacional como internacionalmente".
"Os seus investigadores e as suas investigadoras continuarão a lutar por merecer esse prestígio, corrigindo erros, sendo rigorosos e transparentes para com todos os atos de violação de ética profissional e denunciando aqueles e aquelas que, ao ultrapassarem os limites da verdade e da reclamação justa, nos pretendem distrair da nossa missão maior, a de contribuir para a ciência cidadã", diz, no final de uma carta de sete páginas, escrita a partir do Chile, onde se encontra, de momento.
Para Boaventura de Sousa Santos, o capítulo, no que respeita à principal autora, "é um ato miserável de vingança institucional e pessoal".
A informação "caluniosa" que diz respeito ao sociólogo "é anónima e assente em boatos, ou seja, em 'factos' para os quais não é oferecida nenhuma prova ou modo de chegar a ela", critica.
O capítulo assinado pelas três autoras "é um texto que tem uma mistura entre um quadro teórico sólido, retirado da literatura que foi produzida no seguimento do movimento 'Me Too', à qual se sobrepõe uma informação empírica assente em referências anónimas, boatos e incidentes não identificados e não provados de maneira a poderem ser contestados", vinca.
Boaventura Sousa Santos reconhece que possa ter desiludido a investigadora belga quanto ao pouco tempo dedicado à orientação do seu estágio, mas salienta que "nada dito justifica esta diatribe contra uma instituição e ainda por cima tão personalizada contra alguém que no máximo foi absentista na sua orientação".
Na carta, o sociólogo chama ainda a atenção para pedidos de ajuda de estudantes de doutoramento indígenas da universidade espanhola onde agora Lieselotte Viaene dirige um projeto de investigação, partilhando o teor de um e-mail de uma estudante guatemalteca que acusa a investigadora belga de exercer violência sobre a equipa local de investigação.
"No que respeita às insinuações que me são feitas, quero afirmar que confrontarei qualquer suposta vítima com serenidade e sentido de responsabilidade", frisa Boaventura de Sousa Santos.
Já a investigadora Catarina Laranjeiro não quis pronunciar-se sobre o assunto.