A recusa dos médicos em fazer mais do que as 150 horas suplementares obrigatórias por ano está a provocar constrangimentos nos serviços de urgência de todo o país. Fernando Araújo quer fazer um ponto de situação e avaliar as condições em que estão a funcionar as unidades hospitalares.
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A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) convocou todos os hospitais do país para uma reunião este sábado, numa altura em que muitos deles têm as urgências fechadas ou condicionadas por falta de médicos para fazer as escalas.
A notícia foi avançada pelo Público e, entretanto, confirmada pela TSF. As "múltiplas reuniões" vão servir para que o líder da DE-SNS, Fernando Araújo, possa fazer um ponto de situação e avaliar as condições em que estão a funcionar os serviços de urgência e em rede do Serviço Nacional de Saúde.
A recusa dos médicos em fazer mais do que as 150 horas suplementares obrigatórias por ano está a provocar constrangimentos nos serviços de urgência de todo o país, que se veem obrigadas a fechar ou a trabalhar com limitações.
Num levantamento feito esta semana sobre a entrega de minutas de recusa de horas extraordinárias, a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) salientou que a situação está a provocar encerramentos e constrangimentos nos serviços de urgências, mas também nas escalas de outros serviços hospitalares.
Segundo a Fnam, cerca de dois mil médicos já se recusaram fazer mais horas extras do que as legalmente previstas.
Sem médicos suficientes para que sejam asseguradas as condições de segurança, há hospitais que estão a encaminhar os doentes para outras unidades, uma vez que não conseguem dar resposta.
A administração do maior hospital do país - o Hospital de Santa Maria - ativou, esta sexta-feira, o plano de contingência, justificando a medida com a "grande afluência" de doentes ao serviço de urgência. O diretor do Serviço de Urgência Central, João Gouveia garante que doentes não referenciados "não vão ser atendidos".
"Neste momento, o serviço de urgência do hospital está sob uma grande afluência contínua de doentes e que dificulta bastante a nossa missão", disse João Gouveia em conferência de imprensa.
"Todos os doentes de outros hospitais que não venham referenciados por instituições ou pelo CODU [Centros de Orientação de Doentes Urgentes] do INEM, não vão ser atendidos", adiantou o diretor das urgências, acrescentando que os doentes não urgentes ou "que não devem ser observados em contexto de urgência" passam a ser transferidos para os centros de saúde.
O Presidente da República admite que a situação da saúde em Portugal não é fácil: "Eu penso que é uma situação complexa, mas quando me dizem que continua a existir diálogo, eu acredito. Vamos ver até ao momento em que me digam, olhe, já não é possível diálogo (...) É uma situação que é particularmente crítica até ao fim do ano."
Ainda assim, o chefe de Estado considera que, apesar da crise nas urgências, há uma noção em todas as partes de "não sacrificar os portugueses" e acredita que tudo se vai solucionar no diálogo.