Em entrevista à TSF, Pedro Veiga explica os motivos que o levaram a abandonar o cargo de diretor do Centro Nacional de Cibersegurança e denuncia a má gestão de verbas do setor por associação privada.
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Pedro Veiga abandonou a coordenação do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), esta quarta-feira, em rotura com o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. Em entrevista à TSF, Pedro Veiga, que dirigia o centro desde a sua formação, em 2016, diz ter recebido promessas que não foram cumpridas, por parte do ministro.
"Foi-me prometido pelo sr. ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior um certo conjunto de alterações que eu considerava imprescindíveis e isso não foi cumprido", disse à TSF.
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O também professor de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa - e pioneiro da internet em Portugal - queixa-se ainda de questões como a gestão do domínio "PT", que, na opinião de Pedro Veiga, deveria estar nas mãos do Centro Nacional de Cibersegurança e não de uma associação privada - a DNS.PT, que foi criada em 2013 para suceder à Fundação para a Computação Científica Nacional.
"Foi criada uma associação autónoma para gerir o domínio Internet Portugal [PT]. O modelo de criação da associação envolve um conjunto de aspetos de que eu descordo frontalmente, não segue as melhores formas internacionais", alegou. "Era fundamental para um conhecimento mais perfeito da estrutura de cibersegurança de um país que essa infraestrutura fosse detida pelo Centro de Cibersegurança".
O agora ex-diretor do centro alega que, para além da segurança, está em causa o dinheiro da exploração de um domínio nacional que deveria reverter para o Estado.
"As verbas que viriam dessa associação são imprescindíveis", sublinhou Pedro Veiga, acrescentando que "se tivessem revertido para o Estado, permitiam recrutar os recursos humanos que fazem tanta falta".
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Em causa estão 2 milhões de euros anuais que, de na opinião de Pedro Veiga, são aplicados de forma duvidosa pela DNS.PT, apontando como exemplo "a criação de um edifício 2,5 milhões de euros no centro de Lisboa para uma associação que tem 17 pessoas a trabalhar".
Pedro Veiga assegura que a situação é conhecida pelo ministro Manuel Heitor, que foi alertado para a mesma por um relatório pedido pelo próprio e que concluiu a existência de "sérios conflitos de interesses" na criação e gestão da Associação DNS.PT. "Pelos vistos, o sr. ministro (...) ignorou as recomendações", atirou Pedro Veiga.
Esta manhã, o diretor do Gabinete Nacional de Segurança admitiu, em declarações à TSF, que as verbas disponibilizadas pelo Governo para o centro não eram suficientes para competir com as empresas privadas na contratação de especialistas informáticos.
A TSF já contactou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e aguarda uma reação a estas declarações do ex-diretor do Centro Nacional de Cibersegurança.