Liga Portuguesa Contra o Cancro aplaude reformulação dos cuidados oncológicos por causa do avanço da pandemia, mas diz que medidas são impossíveis de pôr em prática.
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A pandemia de Covid-19 e a entrada na fase mais grave de combate à doença obrigaram a Direção-Geral da Saúde (DGS) a reconfigurar os cuidados de saúde da área oncológica. Uma das medidas implementadas é testar antes e durante os tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
A norma, publicada esta quinta-feira, obriga a uma série de mudanças para evitar as infeções de uma população de alto risco se contrair o novo coronavírus, sendo reforçadas as medidas de rastreio e monitorização.
As unidades de saúde com cuidados para doentes oncológicos devem ser isoladas daquelas que prestam cuidados assistenciais a doentes não oncológicos.
Os serviços de oncologia também devem prever a redução em 10% a 15% da sua força de trabalho e a possibilidade de realizar atos clínicos com recurso à teleconsulta e telemonitorização.
O circuito por onde os doentes com cancro se movem dentro dos hospitais deve ainda ser separado fisicamente da restante atividade do hospital num edifício próprio ou transferindo os doentes para outros hospitais onde essa separação seja possível de ser feita.
Mais testes
Em paralelo, todos os doentes oncológicos devem fazer auto vigilância dos sintomas (febre, tosse e dificuldade respiratória) antes de irem a qualquer unidade de saúde. Além disso, antes de iniciarem tratamentos de quimioterapia e radioterapia ou fazerem uma cirurgia todos os doentes com cancro devem ser sujeitos ao teste da Covid-19, sendo que no caso da quimioterapia e radioterapia, que por vezes se prolongam durante semanas, esse teste deve ser feito uma vez por semana.
A norma também prevê que os doentes oncológicos que não podem parar os tratamentos e que são diagnosticados com o novo coronavírus devem ser separados para hospitais com capacidade para tratar o cancro sem que se cruzem com outros doentes sem Covid-19.
Liga considera a norma irrealista
O presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso, aplaude a norma agora aprovada pela DGS e diz que peca por tardia.
No entanto, há outro problema: "Não vai passar de um processo de intenções, porque esta norma vai ser completamente impossível de cumprir. Já antes da pandemia os serviços tinham uma grande lista de espera", com falta de meios humanos e físicos.
Vítor Veloso dá o exemplo dos corredores separados para doentes com cancro sem Covid-19 e os edifícios isolados para estes mesmos pacientes, que tem muita dificuldade em perceber como podem ser viáveis.
"A norma está muito bem elaborada, mas está muito fora da realidade, pois a realidade é outra no dia-a-dia dos hospitais", conclui.
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