"É mentira." Professores e diretores rejeitam má gestão das escolas e destacam que "país não é só Lisboa e Porto"
Ouvido no Fórum TSF, Filinto Lima garante que os diretores e o Ministério da Educação "não são irresponsáveis", negando a criação de "turmas que vão contra a lei" devido ao baixo número de alunos e destaca que, no litoral, o fenómeno é inverso: "Temos turmas a abarrotar"
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O secretário-geral da Fenprof rejeita em absoluto as conclusões do estudo do Edulog - Fundação Belmiro de Azevedo, que defende que a má gestão do ensino público contribui para a falta de professores, nomeadamente através da existência de escolas com menos de 15 alunos. Ouvido no Fórum TSF, Mário Nogueira garante que isso é "uma falsidade" e diretores e professores lembram unanimemente que o "país não é apenas Lisboa e Porto", pelo que as outras zonas "têm direito a ter acesso ao mesmo tipo de oferta formativa e educativa".
"A escola pública tem de dar resposta a todas as famílias, vivam elas em zonas desertificadas, vivam elas em zonas com maior pressão populacional." Esta é a opinião vincada pelo líder da Fenprof, que considera que "não se pode desenraizar os alunos" e entende que a sua eventual "deslocação é uma violência tremenda". Explica que, se há escolas com poucos jovens, é porque existem razões para isso.
Mário Nogueira sublinha igualmente que o interior do país já é "muito penalizado pelo sistema" educativo português e, por isso, acredita que não faz sentido limitar a oferta educacional a esta população apenas porque o número de alunos inscritos fica abaixo daquilo que é estipulado por lei.
Segundo o estudo do Edulog, nos últimos dez anos, o sistema de ensino perdeu cerca de 117 mil alunos e ganhou mais de nove mil docentes, criando desequilíbrios na proporção entre o número de alunos matriculados e o número de docentes do ensino público. Sobre isto, o sindicalista vai mais longe e não esconde o desacordo perante tal conclusão.
"É de uma falsidade fazer a divulgação destes números como foi feito pelo autor, dizendo que o problema que nós temos é um problema de má gestão das escolas. Isto é falso. Isto é mentira", assegura.
Afirma, contudo, que não fica surpreendido com as ilações retiradas porque o autor do estudo é David Justino, antigo ministro da Educação.
"Enquanto ministro da Educação não foi propriamente um tempo em que nos lembremos que os problemas tiveram solução, pelo contrário. Houve problemas que se agravaram. Ninguém se esqueceu da confusão que na altura foi criada com a colocação de professores, que foi de tal ordem que levou depois à demissão do próprio ministro", argumenta.
Quem também faz reparos ao estudo é Pedro Barreiros, secretário-geral da Federação Nacional Da Educação (FNE), que prefere explorar aquilo que ficou por dizer.
"Ao contrário daquilo que este estudo diz - ou pelo menos aquilo que ele não diz de forma explícita -, neste momento, nós temos o nosso sistema de ensino 140 mil alunos estrangeiros. Destes, 28% não conhecem sequer a língua. Ou seja, é necessária uma dedicação e atenção específica de cada professor para estes alunos", aponta.
Acrescenta que, quando é transmitido este tipo de informações, é importante referir quais as localidades em causa.
"O país não é apenas Lisboa e Porto. Há outras zonas do país onde os alunos e as famílias têm direito a ter acesso ao mesmo tipo de oferta formativa e educativa e isso só se consegue muitas vezes criando turmas de menor dimensão àquela que legalmente é dita como sendo o valor ideal", realça.
Pedro Barreiros adianta também que o Ministério da Educação está a planear novas medidas para resolver a falta de docentes. O foco será "centrar o trabalho dos professores" na pedagogia, retirando "toda a parte burocrática".
O presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares, Manuel Pereira, nota que existem duas opções: "Ou fechamos as escolas e transportamos os alunos para o litoral, ou então assumimos, em termos sociais, a necessidade de manter as escolas vivas no interior do país e manter as comunidades vivas. Esta é a verdadeira situação."
Admite a existência de cursos com "muito poucos alunos", mas destaca que a alternativa é "não haver" ou então "transportar" os jovens para "outros municípios", despesas que "o Estado não está disponível para assumir".
O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, partilha do mesmo desagrado e deixa uma garantia.
"Nós, diretores, e também o Ministério da Educação não somos irresponsáveis. Não formamos turmas que vão contra a lei. E parece que este estudo, e agora declarações do autor do mesmo, indiciam [isso]", assevera.
Esclarece ainda que o estudo "reflete a realidade do país", que consiste num interior com "pouca densidade populacional" e, por isso, "há menos alunos por turma". Sublinha, contudo, que o fenómeno oposto acontece no litoral.
"Mas - e é bom que isso se diga -, do outro lado do país, que é o litoral, temos turmas a abarrotar de alunos, temos turmas muito acima do número que manda a lei", realça.
Questiona, por isso, se o objetivo é fechar escolas, como já aconteceu em anos anteriores.
"Eu pergunto: é isso que nós queremos? Aliás, já há cursos profissionais que existem num concelho e os alunos do concelho de vizinho são obrigados a ir a esse concelho, muitas vezes distantes, largos quilómetros do seu concelho original, para terem aulas", lamenta.
Interroga ainda se o estudo pretende "escamotear a realidade" e defende que o Governo "está a assumir a realidade" de existe falta de professores no sistema educativo português.
Pelos pais, Paulo Cardoso, da direção da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), assinala que é "certo" que não se pode encarar "o número de alunos por turma como um todo, quando isso não é realidade do país".
