Presidente da Confederação do Comércio e Serviços avisa que a recessão vai ser de dois dígitos. Vieira Lopes insiste nas ajudas a fundo perdido: "não vale a pena ter ilusões".
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João Vieira Lopes avisa que o apoio ao tecido empresarial tem de durar "no mínimo um ano e meio a dois anos". O presidente da Confederação do Comércio e Serviços (CCP) alerta que "a retoma não vai ser igual em todos os setores, nem mesmo dentro de cada setor", exemplificando com um dos setores mais afetados: "tudo o que tenha a ver com o turismo vai ter uma retoma muito mais lenta. Não é acabar a crise e as pessoas irem correr para aviões para visitarem outros países". Até porque "há traumas até psicológicos, há receios, há problemas de falta de dinheiro, com muita gente a receber salários menores, e vai aumentar o desemprego".
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E por isso, o representante do comércio e serviços na Concertação Social está convencido que "todas estas medidas no mínimo terão de arrastar-se durante um ano e meio ou dois anos, porque senão será impossível garantir o funcionamento normal da economia".
Recessão de "no mínimo 10%"
Vieira Lopes considera "otimistas" as previsões do Banco de Portugal que estima dois cenários de recuo para o Produto Interno Bruto em 2020: 3,7% ou 5,7%, dependendo da gravidade e duração da crise.
O presidente da CCP sublinha que "não vai haver uma retoma do tipo "acender o interruptor", em que tudo volta à normalidade" e prevê que "essa retoma vai ser faseada por setores, por empresas". Para além disso, "vão continuar a haver restrições para limitar o efeito da pandemia", pelo que acredita que "não é realista pensar em qualquer quebra inferior a dois dígitos".
Apoios a fundo perdido inevitáveis
Até agora o governo lançou, entre outras medidas, o lay-off simplificado, as moratórias na banca e as linhas de crédito de 3 mil milhões de euros com garantia do Estado. Mas isso, explica, não chega nem na dimensão nem na natureza da ajuda: estas medidas, sustenta, "limitam-se a empurrar para a frente um conjunto de responsabilidades. Mas uma grande parte do negócio perdido nestes dois meses não é recuperável e as empresas vão retomar a atividade com um endividamento brutal".
O presidente da CCP considera por isso "completamente irrealista pensar que o tecido empresarial pode aguentar uma situação destas" e avisa: "parte destas medidas e de outras que vão ter de surgir terão de ter uma componente a fundo perdido, não vale a pena ter ilusões em relação a isso".