Encerramento rotativo de maternidades. "Situações mais dramáticas podem ser difíceis de gerir"
À TSF, a Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal considera que o plano de encerramento rotativo das urgências de maternidade "é muito mau para quem precisa de paz para ter o seu bebé".
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O sistema de encerramento rotativo das urgências de maternidade, anunciado na segunda-feira pela Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), é visto com maus olhos pela Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF): "As situações mais dramáticas podem ser difíceis de gerir."
"As mulheres sentem-se muito desamparadas em relação aquilo que era expectável do SNS. (...) Este plano, em que cada vez se fecham mais maternidades, é muito mau para quem precisa de paz e sossego para ter o seu bebé", disse, à TSF, o presidente da SPOMMF, Nuno Clode.
"Há uma preocupação muito grande das grávidas", principalmente em Lisboa e Vale do Tejo, acrescentou, sublinhando ser "necessário uma intervenção de fundo" no SNS: "Alguém com poder deve ser capaz de agir. O estado atual do SNS tem de se tornar neste momento num objetivo importante."
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Também a Associação Portuguesa pelos Direitos das Mulheres na Gravidez contesta a solução apresentada pela Direção Executiva do SNS. Ouvida pela TSF, Filipa Carvalhosa considerou que "há uma falta de cuidado com os utentes".
"Não é a resposta que esperávamos (...). O que nós pedimos é que olhem para a gravidez e para o parto com uma perspetiva diferente", afirmou, momentos antes da associação ser ouvida pela Comissão de Saúde sobre a crise na obstetrícia em Portugal.
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A Direção Executiva do SNS divulgou na segunda-feira o plano de encerramento das urgências de maternidades, no âmbito da operação "Nascer em Segurança no SNS".
VEJA AQUI O MAPA DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA DE GINECOLOGIA/OBSTETRÍCIA E BLOCOS DE PARTO
Com quatro maternidades a funcionar em pleno, a Lisboa e Vale do Tejo é a região com mais limitações. As grávidas podem deslocar-se aos hospitais São Francisco Xavier, Cascais, Abrantes ou à maternidade Alfredo da Costa, sem restrições, entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. De resto, em sete hospitais - Santarém, Vila Franca de Xira, Caldas da Rainha, Loures, Amadora-Sintra, Barreiro e Setúbal -, os blocos de partos estarão fechados aos fins de semana de 15 em 15 dias.
No Hospital Garcia da Orta, em Almada, os serviços vão estar encerrados todos os fins de semanas até ao final do mês de janeiro. A estes dias de encerramento alternado, somam-se o fecho do bloco de partos do Santa Maria e o das Caldas da Rainha, devido às obras.
Já no Norte, o SNS "manterá 13 maternidades em funcionamento pleno"- Bragança, Vila Real, Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Póvoa do Varzim, Matosinhos, Penafiel, Porto (São João e São Bento), Vila Nova de Gaia, Famalicão - e na região Centro seis - Aveiro, Coimbra, Viseu, Castelo Branco, Covilhã e Leiria.
Para o Sul do país, prevê-se que as três urgências existentes nas capitais distrito do Alentejo funcionem normalmente e no Algarve, Faro e Portimão rodem para garantir que há sempre uma urgência aberta.
A Direção Executiva do SNS divulgou ainda, em comunicado, que até janeiro de 2024 vão existir limitações nas urgências pediátricas, sendo a região de Lisboa e Vale do Tejo igualmente a mais afetada.
Os hospitais de Torres Vedras, Loures e São Francisco Xavier só vão ter urgência pediátrica durante o dia. Em Torres Novas e no Barreiro aplica-se o fecho rotativo aos fins de semana, assim como em Setúbal, onde também em algumas sextas-feiras está previsto o encerramento da urgência durante a noite.
VEJA AQUI O MAPA DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA DE PEDIATRIA MÉDICA
Para quarta-feira está agendada uma reunião entre o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, depois de ter sido pedida uma reunião urgente face às dificuldades sentidas nos serviços de urgência, devido à indisponibilidade dos médicos para a realização de mais horas extraordinárias, além das 150 anuais estabelecidas por lei.
Em comunicado, as autoridades de saúde indicam que medida, no âmbito da operação "Nascer em Segurança no SNS", "visa promover a segurança e confiança de grávidas, crianças e profissionais".
A direção do SNS reitera a importância de, antes do recurso a unidades de saúde, contactar previamente a linha SNS 24 (808 24 24 24) e lembra que em situações de emergência, o contacto deve ser feito diretamente para o 112.