Entrega de Prémio Camões a Chico Buarque é "momento de viragem entre Portugal e Brasil"
O ministro da Cultura prometeu, para breve, a entrega dos últimos vencedores do Prémio Camões.
Corpo do artigo
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, vê a entrega do Prémio Camões a Chico Buarque, quatro anos depois, como um "momento de viragem nas relações entre Portugal e Brasil", nomeadamente no que toca à cultura, e afirmou que há aspetos das relações entre os dois países que já estão a melhorar.
"Vem, de certa forma, resgatar uma relação que deve ser natural entre Portugal e o Brasil e que, de certo modo, esteve demasiado tempo suspensa. Há muitas coisas que já estão a mudar, desde logo a entrega do prémio. Nestes quatro dias tive contacto com a minha homóloga brasileira e há coisas que de facto já mudaram. Assinámos um importante protocolo entre o ICA [Instituto do Cinema e Audiovisual] e o seu congénere brasileiro que vai permitir promover as coproduções cinematográficas entre Portugal e Brasil. Há cinco anos que esse protocolo não estava em vigor", sublinhou Adão e Silva à entrada para o Palácio de Queluz, onde vai decorrer a cerimónia de entrega.
O responsável pela pasta da Cultura prometeu também, para breve, a entrega dos últimos vencedores do Prémio Camões.
15831801
"Faltam três: o Silviano Santiago, Vítor Aguiar e Silva, que entretanto faleceu, e a Paulina Chiziane, que será a próxima e é a primeira mulher negra a receber um Prémio Camões. Sobre isso teremos notícias nos próximos dias. A cultura em língua portuguesa é um fator de enorme riqueza e diversidade", rematou o ministro da Cultura.
A cerimónia, que está marcada para esta segunda-feira à tarde, no Palácio Nacional de Queluz, no concelho de Sintra, está integrada na visita oficial a Portugal do Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que começou na sexta-feira, dia 21, e decorre até terça-feira, dia 25, e será presidida pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal.
Chico Buarque foi galardoado com o Prémio Camões em 2019, mas a cerimónia de entrega nunca se realizou depois de ter feito várias críticas às políticas culturais do anterior Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que na altura se recusou a assinar o diploma, cuja entrega formal estava prevista para abril de 2020.
O autor de "Estorvo" e "Leite Derramado" é um apoiante do Partido dos Trabalhadores (PT), defensor de Luiz Inácio Lula da Silva, que foi novamente eleito em outubro do ano passado.
Chico Buarque foi também um crítico do governo de Jair Bolsonaro. Entretanto, a pandemia de Covid-19 obrigou ao adiamento da cerimónia de entrega do prémio, que foi agora remarcada, coincidindo com as celebrações do 25 de Abril e com a visita de Estado, de cinco dias, de Lula da Silva a Portugal.
Sobre a entrega do Prémio Camões de 2019 que agora se concretiza em Portugal, a ministra brasileira da Cultura, Margareth Menezes, considerou que simboliza o regresso aos valores democráticos no Brasil, lembrando que Chico Buarque é "um artista que sempre se envolveu e se colocou na luta a favor da democracia" e contra a ditadura, através das suas obras.
Também a editora Clara Capitão, do grupo Penguim Random House Portugal, que edita a obra de Chico Buarque, na chancela Companhia das Letras, destacou que a entrega do prémio ao escritor e músico brasileiro, "depois de anos de espera, significa que o Brasil voltou a viver um tempo de democracia e esperança".
Nos termos do Regulamento, Portugal e o Brasil organizam de forma alternada as reuniões e as cerimónias de entrega deste galardão.
Depois de Chico Buarque, foram distinguidos o professor e ensaísta português Vítor Manuel Aguiar e Silva (2020), a escritora moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o escritor brasileiro Silviano Santiago (2022).