Especialista pede ponderação: "Não me parece que seja lícito fazer greve às avaliações"
Professora jubilada Luiza Cortesão alerta que os principais prejudicados pelas greves são os alunos e que os professores têm "alguma responsabilidade" na formação dos "futuros cidadãos".
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No dia em que nove organizações sindicais de professores anunciaram que vão fazer greves aos exames nacionais e às avaliações finais, em protesto para exigir a recuperação do tempo de serviço, Luiza Cortesão, professora jubilada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, apela à ponderação sobre "quando e como" serão feitas.
Em declarações à TSF, a socióloga assinala que quem vai sair prejudicado destas greves "não é o patrão que lhes paga o ordenado ou que decide a sua progressão na carreira", mas sim os alunos.
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"Sinto o quanto isto é ameaçador e prejudicial. Se eles não conseguem fazer um exame, não sei como é que o ministério vai resolver esta questão", lamenta, questionando esta forma de luta.
"Não me parece que seja lícito fazer greve às avaliações, não me parece", confessa. Desafiada a perguntar se os professores não deviam, então, avançar com esta paralisação, a especialista em educação assinala que a greve "faz-se de muitas maneiras" e que esta modalidade em específico "deveria ser muito ponderada".
Luiza Cortesão realça também o papel dos professores como "ator social", detalhando que estes têm "às vezes a possibilidade de desempenhar um papel importante na vida das crianças, dos adolescentes ou dos jovens", estimulando por vezes "o espírito crítico, por exemplo, a criatividade, a capacidade de leitura e o interesse pelas coisas interessantes". São "futuros cidadãos" sobre os quais os docentes têm "alguma responsabilidade".
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Numa avaliação rápida do ministro da Educação, a especialista confessa que conhece João Costa e que sabe, por isso, que "há muitos anos que não tínhamos um ministro que saiba de educação como ele sabe".
Apesar desta certeza, lamenta que o responsável pelo ministério esteja "rodeado de fatores que limitam a sua ação" e, desafiada a esclarecer, cita as "questões económicas" inerentes ao cargo: "O valor do dinheiro com que lida, com que pode resolver ou não resolver os assuntos, não é da responsabilidade do ministro da Educação. É do sistema, é de todo o sistema."
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O Ministério da Educação disse esta quarta-feira que vai pedir que sejam decretados serviços mínimos para as greves anunciadas pela plataforma de nove organizações sindicais aos exames e avaliações finais.
Em comunicado, o Ministério da Educação justifica a decisão apontando a necessidade de "garantir o interesse dos alunos e famílias - em particular na dimensão de previsibilidade que o ciclo avaliativo deve ter", além do acesso ao ensino superior.
Por outro lado, a tutela sublinha também que "o direito à avaliação e a conclusão dos processos avaliativos são determinantes para a matrícula e inserção no próximo ano letivo", sobretudo dos alunos que terminam ciclos e mudam de escola.