Exposição com obras de 30 artistas plásticos homenageia Natália Correia "no centro do mundo"
O galerista Carlos Cabral Nunes defende, em declarações à TSF, que a homenagem à escritora portuguesa em Paris "faz todo o sentido", precisamente por ser "o destino de excelência da sua geração".
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Uma exposição com obras de artistas plásticos que dialogam com a obra literária de Natália Correia (1923-1993), enriquecendo o contexto histórico e estético da poetisa e deputada, vai ser inaugurada a 8 de setembro, em Paris, França.
Intitulada "Natália Correia - Confissão poética em torno de Mulher Atlante", a mostra de artes plásticas com cerca de 30 autores terá lugar na Casa de Portugal - André de Gouveia, da Cité Internationale Universitaire de Paris - Fundação Calouste Gulbenkian em França.
Mário Cesariny, Agostinho Gonçalves, Cruzeiro Seixas, Fernando Lemos, Isabel Meyrelles, Matilde Marçal, João Rodrigues, José Escada, Júlio Resende, Margarida Madruga, Eduardo Gageiro, Benjamim Marques, Raul Perez, Mário-Henrique Leiria e Borderlovers são alguns dos criadores representados, segundo um comunicado da organização.
De entre o espólio, o galerista Carlos Cabral Nunes destaca, em declarações à TSF, uma obra "em pintura e poesia" feita por Natália Correia especialmente para Cesariny, algo que considera "raro, se não único".
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Aos nomes mais conhecidos junta-se também o trabalho de João Rodrigues, um "artista de uma geração mais nova que se suicidou por causa de um processo da PIDE".
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"Porque a Natália Correia tinha feito a antologia de poesia erótica, que foi censurada, e quer ela, quer o editor, Luís Pacheco, quer depois o ilustrador, que era o João Rodrigues, foram objeto de um processo da PIDE na sequência do qual ele, com 24 ou 25 anos, se suicidou para não ter de enfrentar as consequências disso", conta Carlos Cabral Nunes.
O galerista considera, assim, que esta é uma oportunidade para se falar "um pouco da história portuguesa e da ditadura", recordando o papel de "Natália Correia para a liberdade". "E o país que temos hoje, que é um país seguramente melhor", conclui o galerista.
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A contribuição da artista não foi somente através das suas obras, mas também enquanto política e, sobretudo, enquanto mulher da cultura e das artes, pelo que, para Carlos Cabral Nunes, Natália era "uma musa, uma diva".
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"A própria forma de ela ser e de estar era uma performance. Eu penso que a vida dela, toda ela é uma vida dedicada à questão artística e cultural, e à poesia, obviamente, mas não só. À questão formativa e visual, e acho que é uma grande personagem da nossa história dos anos 50 e até agora", destaca o galerista que afirma que o legado de Natália Correia "continua não só a ser importante, como atual".
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Carlos Cabral Nunes defende, ainda, que a homenagem em Paris "faz todo o sentido", precisamente por ser "o destino de excelência da geração de Natália Correia".
"Ou seja, hoje, para as novas gerações, Paris deixou de ser o centro do mundo - hoje se calhar é mais Nova Iorque ou Londres ou Berlim -, mas para a geração que se começa a afirmar nos anos 50/60, para essa geração, Paris é, de facto, o centro do mundo", explica.
Trata-se de uma iniciativa enquadrada no centenário do nascimento de Natália Correia, escritora portuguesa nascida no arquipélago dos Açores que foi deputada à Assembleia da República, destacando-se pela intervenção política nas áreas da cultura, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres.
A iniciativa, comissariada por Rui A. Pereira, tem como objetivo evocar a vida e obra da pensadora, o seu universo criativo e os caminhos artísticos que estimulou, segundo a organização, a cargo de Carlos Cabral Nunes, da Perve Galeria.
No texto de introdução ao catálogo da exposição, o comissário refere que as memórias de infância e adolescência marcaram Natália Correia: "Ter vivido nos Açores até aos seus 16 anos, com a circunstância de, desde muito cedo, ter um pai ausente; assumir que a presença materna junto de si foi basilar na construção da sua consciência no Feminino; viver o 'espanto' permanente em contiguidade com a presença da imensidão do mar foram, certamente, fatores determinantes na formação da sua personalidade".
A observação das sucessões de marés inspirou "visões de encanto e reverência tão bem celebradas por ela [Natália Correia] e muitos outros criadores, os poetas, pintores...".
A Casa de Portugal organizará ainda um ciclo de eventos no âmbito desta comemoração do centenário, nomeadamente um colóquio internacional em parceria com as Universidades de Paris Sorbonne, Paris Nanterre, Paris 8, Universidades Nova de Lisboa e de Göttinghem, nomeadamente com a Cátedra Almada Negreiros.
Marcada para dia 8 de setembro, às 18h00, a exposição ficará patente até 28 de outubro.
Durante esta iniciativa decorrerá a pré-estreia internacional do filme "O aplaudido dramaturgo curado pelas pílulas pink", conto de Natália Correia adaptado para cinema pela Marginal Filmes, com realização de Jo Monteiro.