Face Oculta: Namércio Cunha desmente Paulo Penedos e explica lista de presentes
O ex-braço direito do sucateiro Manuel Godinho, Namércio Cunha, arguido no processo Face Oculta, negou ter recebido informação privilegiada do engenheiro da REN (Redes Energéticas Nacionais) Andrade Lopes, contrariando Paulo Penedos, coarguido no processo.
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«Para mim, Andrade Lopes nunca deu informação privilegiada. Também nunca pedi. Estabeleceu-se uma boa relação meramente profissional», disse Namércio Cunha durante a 33.ª sessão do julgamento, que decorre no tribunal de Aveiro.
Em sessões anteriores, Paulo Penedos, filho do ex-presidente da REN, declarou ao tribunal que Andrade Lopes teria dado informações privilegiadas a Namércio Cunha, relacionadas com concursos para a remoção de resíduos da antiga Central da Tapada do Outeiro, com base em escutas de conversas telefónicas entre os dois, ouvidas na sala de audiências.
«Pela audição dos produtos que têm sido utilizados, decorre aparentemente que a única pessoa da REN que terá dado informação privilegiada ao dr. Namércio é afinal o engenheiro Andrade Lopes e não o dr. Paulo Penedos nem os outros arguidos ligados à REN», disse, então, o advogado Ricardo Sá Fernandes, que defende Paulo Penedos.
Ainda durante a sessão da manhã, Namércio Cunha esteve a explicar pormenorizadamente a famosa lista com as prendas oferecidas pelo sucateiro Manuel Godinho, entre 2002 e 2008, que inclui, entre os destinatários, o ex-primeiro ministro José Sócrates, vários antigos ministros, quadros de diversas empresas públicas e autarcas.
Além da classificação que era atribuída a cada um dos destinatários, que ia de "AAAA" a "F", a lista incluía ainda o cargo de cada um e a entidade para a qual trabalhavam, assim como a descrição e o valor dos presentes.
O ex-presidente da REN José Penedos, coarguido no processo, tinha a categoria mais elevada e surge como recetor dos presentes mais caros distribuídos pelo sucateiro de Ovar.
Ao longo deste período, José Penedos terá recebido vários presentes (centro de mesa Grand Lagoon, uma fruteira sem asas, uma jarra de prata, uma caneta Dupont e um cantil português da Vista Alegre, cantil D. João II e um cantil espanhol) num valor total de mais de cinco mil euros.
O advogado que defende José Penedos, Rui Patrício, desvaloriza esta prova da acusação, afirmando que não atribui «nenhuma importância» a esta questão dos presentes.