Falta de professores e "inclusão fictícia" contribuem para notas mais altas no ensino privado

Rui Manuel Fonseca (arquivo)
O relatório "Estado da Educação 2024" denuncia que Portugal continua a ter dificuldades em contrariar o destino de quem nasce numa família desfavorecida. À TSF, a dirigente do Movimento Missão Escola Pública lamenta que a inclusão que existe "no papel" não seja ainda "colocada em prática"
O Movimento Missão Escola Pública considera que a falta de professores no ensino público é uma das principais causas para a diferença entre as notas nas escolas privadas e estatais.
No dia em que foi divulgado o relatório "Estado da Educação 2024", o Conselho Nacional de Educação destaca que as notas dos cursos científico-humanísticos, nas escolas privadas, apresentam em média dois valores mais elevados.
Em declarações à TSF, Cristina Mota, dirigente do Movimento Missão Escola Pública, afirma que esta clivagem advém sobretudo da falta de professores, que "se faz sentir de uma forma muito mais significativa no ensino público do que no ensino privado".
"É o grande fator que está aqui logo a terminar", defende.
O número de alunos com necessidades específicas por turma, acrescenta, também influencia este fator.
"O ensino privado conta com alunos, por exemplo, com necessidades específicas num número muito mais reduzido do que acontece no ensino público", sublinha.
Além disso, há uma maior prevalência de alunos com contextos socioeconómicos familiares mais baixos nas escolas públicas, o que se traduz geralmente em "resultados mais baixos".
O relatório denuncia que Portugal continua a ter dificuldades em contrariar o destino de quem nasce numa família desfavorecida, sendo habitual ver alunos mais pobres com percursos escolares mais erráticos: chumbam mais, desistem mais dos estudos e chegam em menor número ao ensino superior.
O facto de o ensino privado poder escolher quem recebe e quem quer manter motiva esta distinção. Ainda assim, Cristina Mota destaca que a escola pública tem a missão de "receber todos os alunos" e proporcionar condições igualitárias. No entanto, esta ainda é uma ideia presa ao papel.
"No que diz respeito a alunos com necessidades específicas, temos uma inclusão que é fictícia. Portanto, o decreto 54 deveria ser revisto, pois existe uma inclusão no papel que não é colocado em prática. Os alunos não têm todas as condições que o decreto prevê", denuncia.
A dirigente do movimento insiste que há "muitos alunos" que estão a ser prejudicados por esta realidade.

