Mantém-se o forte desequilíbrio entre a oferta e a procura. Existem 9200 camas em residências universitárias nas duas maiores cidades do país e há perspetivas deste número aumentar para 17 mil até 2026, já tendo em conta quase oito mil contabilizadas em projetos em curso. Ainda assim, a escassez traduz-se em 30 mil camas para estudantes em falta em Lisboa e outros 16 mil no Porto, de acordo com o relatório "Student Housing Portugal 2023"que analisa a oferta, procura e indicadores de operação das residências universitárias no nosso país.
Corpo do artigo
O número em falta ronda mesmo as cerca de 46 mil camas em residências universitárias de estudantes em Lisboa e Porto, de acordo com a nova edição do estudo "Student Housing Portugal", da consultora imobiliária JLL, que dá conta que apesar do aumento e qualificação do stock nos últimos anos, o número de estudantes universitários tem crescido a um ritmo bastante superior, mantendo-se um forte desequilíbrio entre a oferta e a procura. Em comunicado, a consultora fala em indicadores de desempenho deste tipo de imobiliário - também chamado de Purpose-Built Student Accomodation (PBSA) - refletem uma indústria forte, que atrai cada vez mais operadores de referência e consolidam este tipo de ativos como um alvo preferencial para os investidores.
Um dos analistas aborda o número de estudantes universitários que não só cresceu muito nos últimos anos como é consideravelmente superior à oferta existente, "atualmente, estamos a contrastar quase 450 mil alunos no ensino superior com um stock inferior a dez mil camas em residências universitárias privadas. Este stock vai crescer para quase 17 mil camas até 2026, mas mesmo já contabilizando este reforço, o número de camas disponíveis não equivale a mais do que 20% a 30% do número de alunos deslocados em Lisboa e Porto, o significa que necessitaríamos de cerca de mais 46 mil camas para suprir as necessidades da procura".
Ainda de acordo com o estudo, existem atualmente 9200 camas integradas em residências universitárias privadas em Portugal, um stock que evoluiu consideravelmente nos últimos três anos quer em número, quer em qualidade, com o desenvolvimento de diversos projetos operados por marcas de referência no alojamento universitário.
A estimativa da consultora aponta para que esse stock alcançará as 17 mil camas até 2026, considerando as 7800 camas contabilizadas nos projetos em pipeline numa altura em que o número de camas privadas em Lisboa chega atualmente para cobrir apenas 17% da comunidade de estudantes deslocados. Um rácio que, no seu entender, expandirá para 18% considerando a adição do pipeline projetado.
No caso do Porto, a taxa de cobertura do mercado é mais elevada. O atual stock dá resposta a 27% dos alunos com necessidades de alojamento, mas a consultora, antecipa a melhoria deste rácio para 32% com o aumento da oferta prevista até 2026.
O estudo conclui, assim, que a escassez de oferta se traduza num total de 30 mil camas em Lisboa e de 16 mil no Porto e são projeções que têm em conta o crescimento exponencial da comunidade de estudantes no ensino superior em Portugal nos últimos anos.
Entre os anos letivos de 2016/2017 e 2022/2023, o número de universitários aumento 85%, contabilizando-se atualmente 446 mil alunos a frequentar este grau de ensino. Entre estes, 74.500 (o equivalente a 17% da comunidade estudantil) são alunos estrangeiros, cerca do dobro de 2016/2017.
Em termos de indicadores de desempenho, esta análise aponta para uma taxa de ocupação na oferta ativa de camas privadas a rondar os 100%, e ainda uma taxa de reacomodação a rondar os 80%. Entre os estrangeiros, são os brasileiros quem mais recorre a este tipo de acomodação, enquanto em termos de estadias, se regista uma ocupação média de 7 meses por ano letivo.
O estudo da JLL apura ainda os preços, notando que estes valores têm evoluído à medida que o stock se tem qualificado. Lisboa posiciona-se como a cidade mais cara, praticando uma mensalidade média nas residências universitárias privadas na ordem dos 770€, mais 200€ que os 570€ praticados no Porto. Sem prejuízo, mediante as localizações, no contexto destas duas cidades, os preços podem variar entre os 330€ e os 1440€ no caso de Lisboa e entre os 330€ e os 842€ no Porto.
Em jeito de conclusão, uma analista da consultora, Joana Fonseca considera que há "um mercado com 100% de ocupação e entre 20% a 30% de satisfação da procura, com preços a crescer e tempos médios de ocupação de 7 meses, num destino universitário consolidado na Europa e cuja oferta se tem vindo a sofisticar. É necessário colmatarmos esta falta de 46.000 camas, criando condições para que o país se projete ainda mais entre os destinos universitários de excelência na Europa".