A falta de cuidados paliativos agrava o sofrimento de milhares de portugueses. O país precisava de 110 equipas, mas tem apenas 11 e nenhuma a funcionar 24 horas por dia.
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Existem em Portugal 62 mil doentes a precisar de cuidados paliativos que só chegam, no entanto, a seis mil pessoas. A escassez é denunciada pela Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), que identificou zonas do país onde não existe qualquer tipo de resposta.
Em declarações à TSF, o presidente da associação, Manuel Capelas, lembra que a maioria dos doentes terminais quer ser cuidada e morrer em casa, mas o atraso na resposta é fatal.
Falta estratégia nos cuidados paliativos em Portugal, denuncia Manuel Capelas, acrescentando que Portugal está na cauda da Europa nesta matéria. Dados da European Association for Palliative Care, indicam que, em 2013, Portugal tinha 5.05 serviços por milhão de habitantes. Atrás de Portugal apenas o Chipre, Grécia, os países de Leste, do Báltico e os da Antiga União Soviética.
Manuel Capelas considera a situação muito preocupante, sublinhando que metade dos doentes referenciados acaba por morrer sem receber qualquer tipo de cuidado paliativo.
A propósito do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, que se assinala sábado, a associação divulgou um estudo que se baseou na análise do desenvolvimento destes cuidados desde 1988. O estudo concluiu que os distritos de Aveiro, Leiria e Santarém e os Açores não têm cuidados paliativos e que metade dos doentes referenciados morre sem acesso a este tipo de assistência.
De acordo com as conclusões do estudo, «a oferta de cuidados paliativos é a que mais se distancia das metas inicialmente delineadas, devido à quase total inexistência de equipas comunitárias de cuidados paliativos hospitalares e domiciliários».
A investigação indica que «o tempo de espera dos doentes é de cerca de 40 dias», que «o número doentes referenciados não corresponde à realidade» e que os indicadores de qualidade são «inadequados».