Família da grávida que morreu quer levar caso à justiça e critica declarações "preconceituosas" da ministra
Em declarações à TSF, Paloma Mendes, uma amiga da grávida, revela que a família está "extremamente ofendida" com as palavras da ministra da Saúde, Ana Paula Martins. Garante ainda que Umo Cani era acompanhada no Centro de Saúde Agualva-Cacém desde julho
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Os familiares da grávida e recém-nascida que morreram no Hospital Amadora-Sintra tencionam levar o caso para a justiça e confessam sentir-se "ofendidos" pela ministra da Saúde, acusando Ana Paula Martins de mentir e incitar ao ódio.
Em declarações à TSF, Paloma Mendes, uma amiga da grávida, adianta que já foi atribuído um advogado para o caso, que pretende tomar "algumas medidas" contra as declarações "preconceituosas" que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, proferiu no Parlamento.
Na sexta-feira, quando confrontada com a morte da grávida, a governante afirmou que casos como este dizem "maioritariamente" respeito a grávidas que "nunca foram seguidas durante a gravidez, que não têm médico de família" e que são "recém-chegadas a Portugal, com gravidezes adiantadas". "São grávidas que não têm dinheiro para ir ao privado, grávidas que algumas vezes nem falam português e que não foram preparadas para chamar o socorro. Por vezes, nem telemóvel têm", acrescentou.
Paloma Mendes revela assim que estão "extremamente ofendidos" com as palavras da ministra. E adianta que a família vai instaurar uma ação contra o hospital Amadora-Sintra, que considera ter "desvalorizado" o quadro clínico da mulher.
"Até então, estão à espera das respostas da ministra e do Ministério Público, para ver se se vão pronunciar em relação a este caso, porque todos os dados são expostos a nível virtual", sublinha.
Insiste ainda que a ministra da Saúde não disse a verdade, apontando que a mulher era residente em Portugal há um ano, tendo engravidado durante uma viagem de férias à Guiné-Bissau. Em julho de 2025, acabou por inscrever-se no Centro de Saúde Agualva-Cacém, que a referenciou para consultas no Hospital Amadora-Sintra.
"Quem é que aqui em Portugal consegue marcar uma consulta de obstetrícia em menos de cinco/seis meses? Ainda para mais alguém que não reside aqui em Portugal, como ela diz. Não existe. São alegações falsas", assegura.
Ana Paula Martins, acusa, criou uma narrativa "com a intenção de fazer uma escusa de responsabilidade pelo que está a acontecer no Serviço Nacional de Saúde (SNS)", assinalando que a família não podia "ficar em silêncio" perante esta situação. Umo Cani fez duas consultas de vigilância de gravidez, em 14 de julho e 14 de agosto, tendo realizado consultas de obstetrícia no Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, nos dias 17 de setembro e 29 de outubro, esta última dois dias antes de morrer.
A administração do Hospital de Amadora-Sintra reconheceu no domingo que a grávida de 36 anos que morreu na sexta-feira depois de ter tido alta dias antes estava a ser acompanhada nos cuidados de saúde primários desde julho e admitiu ter transmitido informações erradas à ministra da Saúde devido "à inexistência de um sistema de informação clínica plenamente integrado, que permita a partilha automática de dados e registos médicos entre os diferentes serviços e unidades".
Nos documentos disponibilizados aos jornalistas, a família da vítima tem um boletim de saúde, que refere que a gravidez é de elevado risco obstétrico, mas Paloma Mendes estranha.
"Se aqui houve algum tipo de erro, foi feito no SNS, porque ela era seguida. Ela tinha exames feitos e nunca foi internada. Nunca foi solicitado algum tipo de internamento por causa de gravidez de risco. Nunca lhe foi dada alguma recomendação: 'Olha, estás com uma gravidez de risco, fica em casa, não podes sair, não podes mexer, não podes fazer nada. Nunca", critica.
Em causa está a notícia avançada pela CNN Portugal sexta-feira, que dá conta que uma mulher, de 37 anos, deslocou-se ao hospital para uma consulta de rotina, onde lhe foi detetado um problema de hipertensão. A unidade de saúde enviou a mulher para casa com parto marcado para esta sexta-feira. No entanto, horas depois, entrou na urgência do mesmo hospital com um novo episódio de hipertensão e o parto acabou por ser feito. Depois, já na urgência, a mulher sentiu-se mal e acabou por morrer.
Em comunicado enviado à TSF, o hospital avança que abriu "um inquérito interno para apurar todas as circunstâncias associadas ao ocorrido".
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) adiantou, entretanto, que o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) recebeu pelas 00h28 desta sexta-feira uma chamada a pedir ajuda para uma grávida de 36 anos, com uma gestação de 38 semanas, que apresentava falta de ar.
"Depois de realizada a triagem clínica e prestado o aconselhamento necessário, o CODU acionou uma Ambulância de Socorro às 00h36", refere o INEM em comunicado.
Segundo o INEM, a equipa da ambulância informou o CODU, às 00h54, que a vítima se encontrava em paragem cardiorrespiratória, tendo sido acionada a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra).
"Às 01h14, no local, a equipa médica da VMER implementou as medidas de Suporte Avançado de Vida (SAV) adequadas. A utente foi depois encaminhada para o HFF, com acompanhamento médico da equipa da VMER, onde deu entrada pelas 01h48", precisa o instituto.
