A renúncia ao cargo acontece após uma "falha de informação grave" no caso da grávida de 36 semanas que morreu no Hospital Amadora-Sintra
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O presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) Amadora-Sintra demitiu-se após ter transmitido "informações incompletas" à ministra da Saúde sobre o caso da grávida que morreu na sexta-feira. Ana Paula Martins afirmou ter aceitado a decisão de Carlos Sá.
Em declarações aos jornalistas, a governante começou por insistir que "lamenta a morte desta mulher e do seu bebé", apontando que é uma situação "muito sensível" que merece "grande consternação". Sublinhou, contudo, que, quando se pronunciou sobre o caso na sexta-feira, fê-lo com base numa "informação completa" que lhe tinha sido transmitida pela administração do Hospital de Amadora-Sintra.
A governante alegou, no Parlamento, que casos como o de Umo Cani dizem "maioritariamente" respeito a grávidas que "nunca foram seguidas durante a gravidez, que não têm médico de família" e que são "recém-chegadas a Portugal, com gravidezes adiantadas". "São grávidas que não têm dinheiro para ir ao privado, grávidas que algumas vezes nem falam português e que não foram preparadas para chamar o socorro. Por vezes, nem telemóvel têm", acrescentou.
A administração reconheceu, no entanto, que a grávida de 36 anos estava afinal a ser acompanhada nos cuidados de saúde primários desde julho, uma informação que Ana Paula Martins só viria a ter acesso no domingo.
Foi, então, na sequência desta "falha de informação grave" que o presidente do conselho de administração da ULS Amadora-Sintra, Carlos Sá, apresentou demissão.
"Nessa mesma altura [no domingo], o senhor presidente do conselho de administração - exatamente porque esta é uma falha de informação considerada grave - pôs o seu lugar à disposição e eu aceitei a demissão", anunciou.
Já quando questionada sobre o tom que utilizou na Assembleia da República e sobre o facto de a família da grávida ter admitido sentir-se "ofendida" com as suas declarações, Ana Paula Martins rejeitou responder aos jornalistas.
Em comunicado, o presidente do conselho de administração da ULS Amadora-Sintra afirmou que se demitiu depois de uma "análise detalhada dos factos e circunstâncias relativos ao infeliz evento ocorrido na última semana envolvendo uma utente grávida assistida nesta unidade hospitalar".
Este domingo, a administração do Hospital de Amadora-Sintra revelou que, "devido à inexistência de um sistema de informação clínica plenamente integrado, que permita a partilha automática de dados e registos médicos entre os diferentes serviços e unidades [...], só hoje [domingo] ao final da tarde foi possível verificar que a utente se encontrava em acompanhamento nos cuidados de saúde primários da ULSASI desde julho de 2025, na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Agualva".
Segundo o comunicado da administração hospitalar, a mulher fez duas consultas de vigilância de gravidez, em 14 de julho e 14 de agosto, tendo realizado consultas de obstetrícia no Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, nos dias 17 de setembro e 29 de outubro, esta última dois dias antes de morrer.
A administração daquela ULS realçou que esta informação do acompanhamento desde julho foi transmitida no domingo à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e que as declarações feitas pela governante, na Assembleia da República, onde disse que a mulher não tinha tido acompanhamento prévio, tiveram "por base informação e o comunicado emitido pela ULSASI, que se referia ao episódio em concreto que antecedeu o desfecho fatal, que teve lugar no dia 31 de outubro, no Hospital Fernando Fonseca".