Festas revelam "ignorância do risco." PSP teme contágio ao intervir em ajuntamentos
A PSP está cada vez mais a ser chamada para desmobilizar jovens em festas, devido às regras estabelecidas por causa da pandemia de Covid-19. Especialistas lembram que perigo de contágio é real, mesmo ao ar livre.
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A Associação Sindical dos Profissionais da Policia (ASPP/PSP) afirma que são cada vez mais os telefonemas para as esquadras de todo o país a denunciar a realização de festas ilegais.
Na última noite, a PSP teve conhecimento de mais dois ajuntamentos ilegais de centenas de pessoas, no Porto e em Braga. A policia foi obrigada a intervir e a dispersar os grupos de jovens que conviviam na via pública.
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Em declarações à TSF, Paulo Rodrigues, presidente da ASPP/PSP, indica que os alertas para este tipo de ajuntamentos estão a ser mais frequentes.
"Cada vez mais, têm havido comunicações para a esquadra - e isto acontece um pouco por todo o país - de ajuntamentos, de pessoas (normalmente, pessoal mais jovem) que acabam por fazer pequenas festas na rua", conta Paulo Rodrigues. "Abrem as viaturas, com música em alto som e bebem e, por vezes, esses ajuntamentos têm tendência a crescer."
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Embora, por norma, a PSP tenha conseguido sempre dispersar os participantes destes ajuntamentos de forma pacífica, Paulo Rodrigues admite que se mantém a preocupação com a segurança dos agentes
"Claro que os polícias são sempre aqueles que estão na linha da frente e, quando vamos resolver uma situação destas, o nosso risco de contágio aumenta consideravelmente. Por isso, como é evidente, estamos sempre numa situação muito complicada, de insegurança - não só pelo problema da integridade física mas também pela possibilidade de ser contagiados", explica.
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Também o pneumologista Filipe Froes, que coordena o gabinete de crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, encara estes ajuntamentos com apreensão.
Ouvido pela TSF, o especialista afirma que estas festas e eventos que se têm verificado revelam "muita imprevidência e muita ignorância do risco de transmissão".
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"As pessoas juntam-se para conviver, para beber, para fumar, para estarem umas com as outras e, muitas vezes, ao manterem a proximidade sem máscara, criam condições para a transmissão da doença, que depois se perpetua na comunidade e que vai ter, sobretudo, repercussões nas pessoas de maior risco", detalha Filipe Froes.
O pneumologista faz questão de lembrar que o vírus também se transmite ao ar livre, através das "gotículas que são emitidas quando uma pessoa fala, tosse, espirra, dança, canta".
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"As pessoas que estão um a dois metros ao redor entram em contacto com as gotículas. E se essas gotículas tiverem vírus, ao entrarem em contacto com as mucosas da boca, do nariz e dos olhos, têm capacidade de entrar nas células e provocar a doença", explica.
"A partilha de copos, a partilha de cigarros, os beijos e os contactos mais íntimos também favorecem a permuta de líquidos orgânicos contaminados e a infeção das outras pessoas", acrescenta.
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O especialista espera, por isso, que na reunião da próxima segunda-feira entre o primeiro-ministro, as autoridades de saúde e os autarcas, sejam tomadas decisões eficazes. Filipe Froes pede "uma grande campanha de informação e de formação das pessoas sobre os riscos que correm e a identificação de situações onde é preciso intervir do ponto de vista social".
"E é de uma imperiosa necessidade o envolvimento das estruturas locais (...), porque são essas pessoas que conhecem melhor o terreno e têm maior capacidade de intervir, de explicar e mudar comportamentos", completa.
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