Fim da Covid deixa "património", mas distribuição de vacinas podia ter poupado vidas
OMS estima que a doença terá matado mais de 20 milhões de pessoas, embora oficialmente só haja registo de sete milhões.
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No dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o fim da emergência global de saúde provocada pela Covid-19, a TSF ouviu o investigador Miguel Castanho e o pneumologista Filipe Froes sobre o que significa o fim da pandemia, mas ambos deixam alertas: há mortes que podiam ter sido evitadas e há lições a retirar do combate à doença.
Em declarações à TSF, o também coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19, Filipe Froes, assinalou que a estimativa de mais 20 milhões de mortes - embora só sete milhões tenham sido comunicadas à OMS - podia ser mais baixa "se tivéssemos tido uma maior capacidade de distribuir a vacina, com critérios equitativos, à escala global".
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Tal, lamenta, não foi possível e fica como uma das "grandes lições" que a OMS tirou desta pandemia para aplicar a outras que possam vir a acontecer: "Uma resposta mais célere, mais justa e mais equitativa, de forma a garantir a proteção de todos de forma mais equilibrada".
Em pandemia, "a nossa saúde não depende só de nós, depende também da defesa dos outros e nós estamos todos dependentes uns dos outros para combater uma ameaça à escala global".
"Uma vitória" que deixa "património"
Ainda assim, Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular, assinala este como um momento histórico, apesar de ser uma certeza que "um dia" a pandemia haveria de acabar.
"A pandemia de 1918 também chegou ao fim sem termos o poder tecnológico que temos hoje, só que em 1918 chegou ao fim porque o vírus atingiu toda a gente, matou muita gente e acabou naturalmente porque não tinha mais ninguém para enfrentar", algo "muito diferente" do caso da Covid-19, assinala à TSF.
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Esta é "uma vitória, não por ter terminado um dia, mas porque nós conseguimos resistir, conseguindo diminuir muito o impacto do vírus", por meio das vacinas que puderam ser desenvolvidas e pela troca de informações sobre o vírus entre a comunidade científica.
A estes fatores juntou-se o alerta e mobilização da população para "comportamentos defensivos", um "património que fica", assinala, para o futuro do combate a pandemias, "porque esta não será, com certeza, a última".