Em declarações à TSF, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Noel Carrilho, denunciou a "falta de imaginação e falta de vontade política para resolver os problemas" no Serviço Nacional de Saúde.
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O presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) reagiu, esta terça-feira, à demissão da ministra da Saúde, Marta Temido, numa decisão que "não é surpreendente".
Noel Carrilho, em declarações à TSF, considerou que a incapacidade da ministra "tem sido revelada de forma indisfarçável e o SNS tem vindo a decair em termos da sua capacidade e qualidade de forma preocupante".
"Temos sofrido de procrastinação, de falta de imaginação e falta de vontade política para resolver os problemas, cuja solução tarda, e o que nos preocupa é que haja uma modificação da hierarquia, mas não haja uma modificação da vontade política por parte de um ministro", concluiu.
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Marta Temido apresentou, esta terça-feira, a demissão do cargo de ministra da Saúde. O anúncio foi feito pelo próprio Ministério numa nota enviada às redações.
"A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao Primeiro-Ministro por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo", lê-se no comunicado.
António Costa já aceitou a demissão da ministra. "O primeiro-ministro recebeu o pedido de demissão da Ministra da Saúde. Respeita a sua decisão e aceita o pedido, que já comunicou ao Senhor Presidente da República", anunciou o gabinete do primeiro-ministro em comunicado.
"O primeiro-ministro agradece todo o trabalho desenvolvido pela Dra. Marta Temido, muito em especial no período excecional do combate à pandemia da Covid-19", afirmou.
O gabinete de António Costa revelou que "o Governo prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses".
Iniciou funções em 2018 sucedendo a Adalberto Campos Fernandes, tendo sido ministra durante 1414 dias, quase quatro anos.
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O mandato de Marta Temido ficou marcado por várias dificuldades e polémicas, destacando-se a pandemia de Covid-19 e as várias crises no SNS.
As críticas a Marta Temido agravaram-se nos últimos meses, com várias urgências obstétricas a fecharem por falta de médicos em todo o país.
Temido anunciou um plano de emergência para o verão, mas os problemas mantiveram-se, e com efeitos trágicos. Em julho, um bebé morreu durante uma cesariana de urgência no hospital das Caldas da Rainha devido ao encerramento do bloco de partos.
No mesmo mês, um outro bebé perdia a vida, depois de a mãe ter feito mais de cem quilómetros à procura de um hospital.
O caso mais recente foi conhecido nas últimas horas: Uma mulher de 34 anos, grávida de 31 semanas, morreu, em Lisboa, depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória durante a transferência de ambulância de Santa Maria para São Francisco Xavier. A grávida estava a ser transferida porque em Santa Maria não havia vaga para o bebé quando fosse provocado o parto, uma medida urgente para salvar a vida da mãe.
A ministra demissionária é doutorada em Saúde Internacional pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Gestão e Economia da Saúde, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e é licenciada em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Marta Temido também foi subdiretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e presidente do conselho diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde, assim como membro do conselho de administração de vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde.