Substituição de Temido deveria ser "imediata". Enfermeiros falam em demissão "já anunciada"
Em declarações à TSF, Pedro Costa, presidente do Sindicato dos Enfermeiros, defende que Marta Temido "não tinha uma visão estratégica para o SNS".
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As críticas dos médicos à ex-ministra da Saúde são partilhadas pelos enfermeiros. Pedro Costa, presidente do Sindicato dos Enfermeiros, considera que estamos perante a demissão esperada de uma ministra com falta de visão.
"Era uma demissão já anunciada, nós desde há vários meses temos avisado a Ministério da Saúde que se não houvesse uma estratégia, muita resiliência, muita capacidade de organização, isto era anunciado, mais dia, menos dia. O que tem vindo a existir, ao longo destes meses todos, é documentos atrás de documentos. Marta Temido mostrou claramente que não tinha uma visão estratégica para o SNS e, numa altura em que o SNS está praticamente a fazer 43 anos, torna-se claro que os problemas que o SNS tem já deviam estar resolvidos há muito tempo", explicou à TSF Pedro Costa.
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O presidente do Sindicato dos Enfermeiros está ainda preocupado com o facto de a substituição de Marta Temido não ser rápida. Pedro Costa afirma que a demora pode causar ainda mais instabilidade no SNS.
"Acho que o primeiro-ministro deveria ter a capacidade de poder substituir Marta Temido de imediato, de forma a manter uma esterilidade na instabilidade no SNS", refere, lembrando que os enfermeiros estão em negociação com o Ministério sobre a valorização das carreiras. "Se nós tivermos a atrasar durante semanas o novo ministro ou nova ministra, podemos criar uma instabilidade ainda maior num sistema que já não é estável", sublinha.
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Marta Temido apresentou, esta terça-feira, a demissão do cargo de ministra da Saúde. O anúncio foi feito pelo próprio Ministério numa nota enviada às redações.
"A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao Primeiro-Ministro por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo", lê-se no comunicado.
António Costa já aceitou a demissão da ministra. "O primeiro-ministro recebeu o pedido de demissão da Ministra da Saúde. Respeita a sua decisão e aceita o pedido, que já comunicou ao Senhor Presidente da República", anunciou o gabinete do primeiro-ministro em comunicado.
"O primeiro-ministro agradece todo o trabalho desenvolvido pela Dra. Marta Temido, muito em especial no período excecional do combate à pandemia da Covid-19", afirmou.
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O gabinete de António Costa revelou que "o Governo prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses".
Marta Temido iniciou funções em 2018 sucedendo a Adalberto Campos Fernandes, tendo sido ministra durante 1414 dias, quase quatro anos.
O mandato Temido ficou marcado por várias dificuldades e polémicas, destacando-se a pandemia de Covid-19 e as várias crises no SNS.
As críticas à ex-ministra da Saúde agravaram-se nos últimos meses, com várias urgências obstétricas a fecharem por falta de médicos em todo o país.
Temido anunciou um plano de emergência para o verão, mas os problemas mantiveram-se, e com efeitos trágicos. Em julho, um bebé morreu durante uma cesariana de urgência no hospital das Caldas da Rainha devido ao encerramento do bloco de partos.
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No mesmo mês, um outro bebé perdia a vida, depois de a mãe ter feito mais de cem quilómetros à procura de um hospital.
O caso mais recente foi conhecido nas últimas horas: Uma mulher de 34 anos, grávida de 31 semanas, morreu, em Lisboa, depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória durante a transferência de ambulância de Santa Maria para São Francisco Xavier. A grávida estava a ser transferida porque em Santa Maria não havia vaga para o bebé quando fosse provocado o parto, uma medida urgente para salvar a vida da mãe.
A ministra demissionária é doutorada em Saúde Internacional pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Gestão e Economia da Saúde, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e é licenciada em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Marta Temido também foi subdiretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e presidente do conselho diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde, assim como membro do conselho de administração de vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde.