Roque da Cunha fala em "incapacidade" de Temido e pede "mais medidas e menos propaganda"
Para o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, a ex-ministra da Saúde não teve capacidade para resolver os problemas do Serviço Nacional de Saúde. Por isso, em declarações à TSF, Jorge Roque da Cunha considera que o próximo ministro "tem que ser alguém que conheça o setor".
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Os sindicatos médicos já reagiram à demissão da agora ex-ministra da Saúde. Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, aponta um dedo crítico a Marta Temido, considerando que foi incapaz de resolver problemas no Serviço Nacional de Saúde e de fazer frente ao ministro das Finanças.
"Tem-se assistido, nos últimos meses, a uma dissociação da realidade. Ainda na semana passada, a doutora Marta Temido dizia que tinham contratado milhares de profissionais de saúde. Revelou ter incapacidade de ter uma posição junto do ministro das Finanças e incapacidade de diálogo com os parceiros do setor. Naturalmente que os factos faziam antever muita dificuldade da senhora doutora Marta Temido de ultrapassar os problemas", explicou à TSF Jorge Roque da Cunha.
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O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos defende que o próximo ministro da Saúde deve ser diferente. Jorge Roque da Cunha pede mais medidas e menos propaganda.
"Terá que ser alguém que conheça o setor, alguém que tenha capacidade política para, junto do senhor primeiro-ministro e do senhor ministro das Finanças, explicar que investir hoje não é só é poupar em mortes, mas também ganhos de saúde e produtividade do país, capacidade de diálogo e capacidade de decisão. Precisamos de mais medidas e menos propaganda, porque foi essa a imagem de marca que a doutora Marta Temido inculcou no seu magistério", acrescentou.
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Marta Temido apresentou, esta terça-feira, a demissão do cargo de ministra da Saúde. O anúncio foi feito pelo próprio Ministério numa nota enviada às redações.
"A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao Primeiro-Ministro por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo", lê-se no comunicado.
António Costa já aceitou a demissão da ministra. "O primeiro-ministro recebeu o pedido de demissão da Ministra da Saúde. Respeita a sua decisão e aceita o pedido, que já comunicou ao Senhor Presidente da República", anunciou o gabinete do primeiro-ministro em comunicado.
"O primeiro-ministro agradece todo o trabalho desenvolvido pela Dra. Marta Temido, muito em especial no período excecional do combate à pandemia da Covid-19", afirmou.
O gabinete de António Costa revelou que "o Governo prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses".
Marta Temido iniciou funções em 2018 sucedendo a Adalberto Campos Fernandes, tendo sido ministra durante 1414 dias, quase quatro anos.
O mandato Temido ficou marcado por várias dificuldades e polémicas, destacando-se a pandemia de Covid-19 e as várias crises no SNS.
As críticas à ex-ministra da Saúde agravaram-se nos últimos meses, com várias urgências obstétricas a fecharem por falta de médicos em todo o país.
Temido anunciou um plano de emergência para o verão, mas os problemas mantiveram-se, e com efeitos trágicos. Em julho, um bebé morreu durante uma cesariana de urgência no hospital das Caldas da Rainha devido ao encerramento do bloco de partos.
No mesmo mês, um outro bebé perdia a vida, depois de a mãe ter feito mais de cem quilómetros à procura de um hospital.
O caso mais recente foi conhecido nas últimas horas: Uma mulher de 34 anos, grávida de 31 semanas, morreu, em Lisboa, depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória durante a transferência de ambulância de Santa Maria para São Francisco Xavier. A grávida estava a ser transferida porque em Santa Maria não havia vaga para o bebé quando fosse provocado o parto, uma medida urgente para salvar a vida da mãe.
A ministra demissionária é doutorada em Saúde Internacional pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Gestão e Economia da Saúde, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e é licenciada em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Marta Temido também foi subdiretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e presidente do conselho diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde, assim como membro do conselho de administração de vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde.