"Foi iniciativa da Santa Sé." Organização da JMJ afasta responsabilidades por selo polémico
Em declarações à TSF, Rosa Pedroso Lima, porta-voz do evento, afirma que o desenho foi uma escolha do ilustrador do Vaticano.
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A organização da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023 recusou esta terça-feira ter responsabilidades no desenho do selo comemorativo do evento emitido pela Cidade do Vaticano.
"A organização da JMJ não tem responsabilidade sobre esta iniciativa. Independentemente das opiniões - que ainda bem que existem porque vivemos num país democrático -, isto é uma emissão especial de um selo da responsabilidade do Vaticano, com o objetivo de promover a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023. Isto foi uma iniciativa da Santa Sé, como muitas outras", defendeu Rosa Pedroso Lima, porta-voz da JMJ, à TSF.
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No selo que está a causar polémica vê-se um desenho do Padrão dos Descobrimentos, monumento localizado em Lisboa, no qual o Infante D. Henrique foi substituído pelo Papa Francisco e jovens no lugar dos navegadores. Uma das vozes críticas foi do bispo Carlos Moreira Azevedo, delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas: "É polémico e acentuadamente nacionalista para um evento que tem um caráter extremamente universal."
Por sua vez, a organização da Jornada Mundial da Juventude "não tem a pretensão de interferir nas decisões do Vaticano". A organização do evento foi informada deste selo, mas considera que não lhe compete duvidar da intenção de quem o criou.
"O ilustrador, que já é habitué na produção de materiais e peças de ilustração dos selos da Cidade do Vaticano, escolheu um monumento nacional que representa e simboliza, na sua opinião, Lisboa e, de acordo com a descrição que nos foi enviada e a todos os órgãos de comunicação social pelo Vatican News, o objetivo é desenhar o Papa guiando os jovens e a Igreja para uma nova época e aquilo que representa simbolicamente o Padrão dos Descobrimentos, numa alegoria à barca de São Pedro", explica Rosa Pedroso Lima.
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E remata: "Estes são os objetivos e as intenções expressas pelo Vaticano. Não nos compete a nós duvidar dessas intenções."
Foi esta segunda-feira que o Vaticano apresentou um selo inspirado no Padrão dos Descobrimentos, com a imagem do Papa Francisco no lugar do Infante D. Henrique e jovens no lugar dos navegadores, um deles agitando a bandeira de Portugal.
A imagem foi mal recebida nas redes sociais, com alusões às semelhanças entre o selo e a linguagem gráfica do Secretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo e do colonialismo.
Em declarações à TSF, o bispo Carlos Moreira de Azevedo assinala o "muito mau gosto" do selo, "não só gráfico", mas também no "motivo de inspiração".
Questionado sobre as parecenças da imagem do selo com as dos antigos manuais da educação primária durante o Estado Novo, o bispo confirma-as, referindo-se a estas como uma "base de inspiração muito má".