Assis declarou hoje, no Congresso do PS, encerrada a disputa com Seguro, num discurso em que criticou a «intimidade» do PR com o Governo e defendeu a herança «socrática».
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«Podes contar comigo», afirmou o ex-líder parlamentar do PS e candidato derrotado ao cargo de secretário-geral nas eleições directas de Julho, dirigindo-se ao vencedor da disputa interna, António José Seguro, durante o discurso de apresentação da sua moção de estratégia.
Já depois de ter recebido prolongadas salvas de palmas por parte dos delegados, Francisco Assis voltou a garantir que recusa ser um líder de facção, elogiou o discurso proferido pelo novo secretário-geral na abertura do congresso [na sexta-feira] e levantou a plateia ao assumir em sentido contrário uma famosa frase da autoria do ex-presidente do PSD Pedro Santana Lopes.
«Eu não vou andar por aí, eu vou estar por aqui ao vosso lado. Temos de sair daqui como um partido que sabe reconduzir-se à unidade. Os portugueses estão à espera que os socialistas se unam para criarem uma alternativa sólida», declarou durante a intervenção, que durou 28 minutos.
O candidato derrotado à liderança do PS preferiu centrar o seu discurso no ataque ao executivo de coligação PSD/CDS, que disse ter condições únicas para governar, já que dispõe de maioria absoluta no Parlamento, dispõe de hegemonia nas autarquias e «entre os comentadores das televisões», contando, ainda, com a «cooperação activa e íntima» do Presidente da República.
Assis disse mesmo que esse comportamento de Cavaco Silva «contrasta com a actuação que teve com o Governo anterior [de José Sócrates] na última fase da sua vida».
Em relação ao Governo liderado por Pedro Passos Coelho, o ex-líder parlamentar socialista deu como exemplo da sua alegada insensibilidade social «o caso chocante» de se pretender limitar o número de transplantes a realizar em Portugal.
«Não estamos a falar de uma cirurgia estética, mas da fronteira entre a vida e a morte», disse, antes de advertir que Portugal, face à acção do actual Governo, «corre o risco de enfrentar uma cisão histórica com a destruição e empobrecimento de uma grande parte da classe média portuguesa».
Neste ponto, Assis citou o filosofo Aristóteles e considerou que não há sociedade democrática saudável sem a existência de uma classe média forte, razão pela qual, na sua perspectiva, o discurso de oposição dos socialistas deve dirigir-se prioritariamente a estes grupos sociais.
Apesar de nunca ter atacado a linha maioritária, o candidato da tendência minoritária deixou alguns recados à futura direcção liderada por António José Seguro sobre a herança dos governos de José Sócrates.
«Não podemos aderir à falsificação do relato e à revisão da História feitas pela direita sobre estes últimos seus anos. O legado dos últimos seis anos não é o défice, a dívida e o desemprego, mas o grande salto na qualificação das pessoas e a modernização da economia portuguesa. Temos de nos orgulhar desse legado e saber projecta-lo no futuro», disse.