Fraudes para entrada em Portugal. Sindicato dos trabalhadores consulares apela a "precaução acrescida"
Sindicalista diz que colegas no Brasil já suspeitavam de pessoas a trabalhar nos postos consulares "que teriam outros interesses".
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Os trabalhadores dos consulados pedem precaução acrescida e critérios ainda mais apertados na hora de contratar trabalhadores para estes espaços, depois de esta segunda-feira a Judiciária (PJ) ter revelado que está a investigar suspeitas de infiltração de duas das maiores organizações criminosas do Brasil no consulado português no Rio de Janeiro.
Em declarações à TSF, a secretária-geral do Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (STCDE), Rosa Ribeiro, defende que é necessário "uma precaução acrescida nos recrutamentos" para estes cargos.
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"Os postos consulares no estrangeiro são postos onde é possível aceder a todo o tipo de informações. É um lugar privilegiado, portanto, tem que haver muito cuidado no recrutamento dos trabalhadores para estes postos e tem que passar por um filtro apertado, que é para não se reproduzirem a estas situações."
"Sistematicamente vemos notícias dos postos no Brasil com procedimentos muito pouco claros", lamenta Rosa Ribeiro, apelando a que sejam tomadas medidas para evitar que casos com estes se voltem a repetir.
A PJ está a investigar uma suspeita de infiltração de duas das maiores organizações criminosas do Brasil no consulado português no Rio de Janeiro.
De acordo com a edição desta segunda-feira do Diário de Notícias, em causa poderá estar um esquema ilícito de obtenção de vistos para que membros dos grupos Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho pudessem chegar a Portugal.
A secretária-geral do STCDE revela que vários colegas já tinham levantado suspeitas.
"Nós tínhamos colegas bastantes preocupados porque lhes parecia que havia entrada de pessoas a trabalhar nos postos que teriam outros interesses". Isto porque, aponta Rosa Ribeiro, "não era com os salários praticados naquele momento nos postos no Brasil que se poderia justificar o interesse".
"Nós sempre dissemos ao Ministério que quando as pessoas entravam nos postos por remunerações que não eram dignas só poderia significar que poderiam ter a vontade de ter um pé dentro do posto para ter acesso a outro tipo de informações e para poderem agir de outra forma".
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"As pessoas honestas preocupavam-se muito com tudo o que se está a passar", reforça.
A designada "operação Agendródomo" conta com quase uma dezena de arguidos, a maioria brasileiros, funcionários ou ex-funcionários do consulado e pessoas próximas destes. São suspeitos de crimes como corrupção passiva e ativa, participação económica em negócio, peculato, acesso ilegítimo, usurpação de funções, abuso de poder, concussão, falsificação de documentos e abuso de poder.
A Unidade Nacional de Combate à Corrupção e o Ministério Público já terão identificado perto de 30 cidadãos brasileiros que terão conseguido chegar a Portugal através deste esquema.