PJ investiga esquema no consulado português do Rio de Janeiro que pode ter mão de organizações criminosas
Autoridades acreditam que grupos Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho tinham cúmplices no consulado para facilitar a entrada em Portugal.
Corpo do artigo
A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar uma suspeita de infiltração de duas das maiores organizações criminosas do Brasil no consulado português no Rio de Janeiro.
De acordo com a edição desta segunda-feira do Diário de Notícias, em causa poderá estar um esquema ilícito de obtenção de vistos para que membros dos grupos Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho pudessem chegar a Portugal.
A designada "operação Agendródomo" conta com quase uma dezena de arguidos, a maioria brasileiros, funcionários ou ex-funcionários do consulado e pessoas próximas destes. São suspeitos de crimes como corrupção passiva e ativa, participação económica em negócio, peculato, acesso ilegítimo, usurpação de funções, abuso de poder, concussão, falsificação de documentos e abuso de poder.
Entre cerca de uma centena de processos administrativos potencialmente fraudulentos, há casos de pessoas que passaram à frente das que aguardavam vagas a troco de cerca de 300 euros (cerca de 1500 reais, num país onde salário mínimo é de 1300 reais) e até supostos mortos que obtiveram nacionalidade portuguesa.
A Unidade Nacional de Combate à Corrupção e o Ministério Público já terão identificado perto de 30 cidadãos brasileiros que terão conseguido chegar a Portugal através deste esquema.
"Há interesse destas organizações criminosas terem seus membros com documentação regular em Portugal, considerando que o país é estratégico como porta de entrada de drogas, principalmente cocaína, na Europa", explica Robson Souza, um ex-polícia militar brasileiro, citado pelo DN.
Num comunicado enviado às redações, a PJ conforma a realização de uma operação policial transnacional, após pedido de cooperação judiciária internacional às Autoridades Judiciárias Brasileiras, visando a execução de 11 mandados de busca domiciliária e não domiciliária e apreensão e pesquisa informática.
As buscas decorreram em Lisboa, no Rio de Janeiro e em Saquarema, com mais de 100 diligências.
Participaram na operação no Brasil, em colaboração com a Polícia Federal, 21 investigadores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) e dois peritos informáticos da UPTI, da Polícia Judiciária, acompanhados por duas Magistradas do Ministério Público do DIAP Regional de Lisboa.
Já em Portugal foram executados dois mandados de busca e apreensão, bem como quatro mandados de pesquisa de dados informáticos. Participaram na operação 10 investigadores e peritos informáticos da PJ, acompanhados por um Magistrado do Ministério Público do DIAP Regional de Lisboa.
Contactado pela TSF, o Ministério dos Negócios Estrangeiros não faz mais comentários, remetendo para um comunicado do consulado português no Rio de Janeiro no inicio do mês, quando vieram a publico as primeiras notícias sobre esta operação, em que confirmava a abertura de um inquérito pela inspeção geral diplomática e consular do ministério.