Gasoduto ibérico: "Se não for possível ligar-nos a França, que nos ligue a Itália"
Primeiro-ministro português acredita que França "não vai querer estar isolada" no apoio ao novo gasoduto, mas admitiu que há outras soluções, como uma ligação a Itália ou outras "mais difíceis" e "mais caras".
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O primeiro-ministro, António Costa, defendeu esta sexta-feira que "em condições normais" o gasoduto ibérico "deve ligar-nos a França", mas se tal não for possível, "que nos ligue a Itália", o país mais próximo. Outras soluções podem ser "mais difíceis" e "mais caras", sublinhou o chefe do executivo português, em Berlim, após uma reunião com Olaf Scholz e PedroSánchez sobre a energia.
António Costa disse que a Alemanha continua a apoiar a construção do gasoduto dos Pirenéus e que, aliás, é essa a posição das instituições europeias que, em vários relatórios, assinalam a "prioridade" de fazer essa ligação, porque a "Europa tem de diversificar as suas fontes de abastecimento" e "não pode estar tão dependente de um único fornecedor".
"E a Península Ibérica tem não só a capacidade de produzir energia renovável, em particular hidrogénio verde no futuro, como também ser um ponto de descarga de gás natural proveniente, por exemplo, dos EUA, da costa africana", sustentou Costa, notando que para que isso acontecer "precisamos de ter mais interconexões".
Por outro lado, acrescentou, quer em Portugal, quer em Espanha, "os consumidores têm pago um preço elevado do preço da energia pelo facto de estarmos praticamente isolados do mercado europeu". "Temos só 3% de interligações, devíamos ter já 10% em 2020. Estamos muito atrasados e é preciso desbloquear", apontou.
"O gasoduto, em condições normais deve ligar-nos a França, se não for possível ligar a França, que nos ligue a Itália, que é o país mais próximo", defendeu. "Ou então, [avançarão] outras soluções mais difíceis, mais caras". Mas "a solução natural é a da França", reforçou.
Questionado sobre como vai convencer Emmanuel Macron, que se tem posicionado contra, Costa disse não ser uma questão de trunfos. "Nós compreendemos e respeitamos os problemas ambientais, compreendemos também os interesses económicos da França. Mas o argumento fundamental é aquilo que a geopolítica nos diz - não podemos estar dependentes, como até agora, de um único fornecedor. Temos que diversificar os fornecedores e diversificar cada vez mais as fontes de energia".
Perante as questões dos jornalistas, Costa assumiu que França "não vai seguramente querer estar isolada" na posição comum de apoio ao novo gasoduto ibérico.
"Temos trabalhado os três (Portugal, Espanha e Alemanha) para que a França se possa mostrar de novo aberta a esta solução (...) À volta do Conselho não vai seguramente querer estar isolada nesta posição que é comum", apontou, sublinhando que o executivo de Paris nem sempre esteve contra este projeto.
UE deve "encontrar uma saída comum"
A reunião de hoje em Berlim, explicou Costa, serviu para preparar o próximo Conselho Europeu, marcado para 20 e 21 de outubro, onde espera que possam ser dados passos no sentido de tomar "decisões concretas", designadamente sobre "aquilo que é mais urgente - medidas que estabilizem duradouramente os mercados da energia".
"Precisamos de dar quer às famílias quer às empresas expectativas relativamente seguras sobre o que vai acontecer no próximo ano. Para isso, é fundamental que a UE possa ter respostas conjuntas", assinalou o chefe de executivo.
Costa lembrou as duas crises dos últimos 15 anos para afirmar que os governantes estão a retirar as "lições" do que foi mal feito e do que foi bem feito. E o que foi feito como resposta à pandemia "foi bem" feito. "Conseguimos apoiar as famílias, as empresas e isso permitiu enfrentar uma crise dramática", saindo dela com as "empresas com capacidade de laborar e a manter o emprego, continuando a exportar". E é isso que tem de ser assegurado agora: "Temos que apoiar as empresas para continuar a laborar, não obstante os preços da energia."
Assinalando que cada país tem estado a adotar medidas, e que Portugal ainda esta quinta-feira apresentou um "pacote muito forte de três mil milhões de euros para injetar no sistema energético para controlar os preços da eletricidade e do gás", o primeiro-ministro defendeu que ainda "são necessárias medidas mais robustas" e "uma atuação conjunta da UE".
Sendo certo que a situação dos países é "diferente de uns para os outros", e que, por exemplo, a Alemanha está muito mais exposta às dificuldades e muito mais dependente do gás russo, "no fundo, estamos todos na mesma dificuldade". "E quando estamos todos na mesma dificuldade, devemos encontrar uma saída comum", rematou.