Entre leilões realizados e previstos, do solar à eólica, até final do ano, o Governo quer garantir, ainda até ao fim de 2023, a realização do primeiro leilão, na área da eólica offshore. Duarte Cordeiro adianta ainda que há incentivos para as empresas que estimulem a economia circular, já com efeitos a partir do próximo ano.
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Vai mesmo avançar o projeto da central de dessalinização de Albufeira até final do ano, numa altura em que o Governo garante ter em estudo outro projeto para dessalinizar águas para uso industrial, no polo industrial de Sines, onde está instalado o cluster do hidrogénio. A garantia foi deixada pelo ministro do Ambiente, esta segunda-feira, na abertura da conferência "Millennium Talks" realizada na Arena d'Évora.
Duarte Cordeiro adiantou ainda que a revisão da lei da água também está em preparação pelo Executivo, num longo discurso sobre as necessidades e a estratégia política seguida em matéria ambiental, num país que até 2026 quer ter 80% da eletricidade para consumo proveniente de fonte renovável.
Entre leilões realizados e previstos, do solar à eólica, até final do ano, o Governo quer garantir, ainda até ao fim de 2023, a realização do primeiro leilão, na área da eólica offshore e sem falar do que está previsto no Orçamento do Estado para 2024 esta semana conhecido, Duarte Cordeiro adiantou que há incentivos para as empresas que estimulem a economia circular, já com efeitos a partir do próximo ano.
Miguel Maya, presidente do conselho de administração do Millennium BCP, adiantou que, nos tempos que correm, é preciso uma planificação reforçada de programas de apoio à economia, incluindo fundos comunitários.
Em pleno coração do Alentejo, a região que tem o maior lago artificial da Europa, o banqueiro deixou ainda o desafio sobre a gestão da água como prioridade da política portuguesa e até deu o exemplo de Israel, onde 80% do consumo já provem de dessalinização.
Um quadro completo sobre financiamento europeu ao dispor do país e em particular da região do Alentejo foi traçado por Gonçalo Regalado, diretor de marketing de empresas, negócios e Institucionais do Millennium BCP, que citou um estudo encomendado pelo banco a uma consultora, que dá conta que o país vai precisar de gastar 4 vezes o PIB nacional no processo de descarbonização e a sustentabilidade tornou-se um dos critérios principais na avaliação de projetos das empresas, bem como da aprovação do seu financiamento.
Sugestões para o Orçamento do Estado de 2024, rapidez na execução de fundos comunitários e ideias sobre o que falta fazer no Alentejo, foram algumas das ideias deixadas por diferentes protagonistas, num evento dedicado a desafios da inovação, tendo em conta o pacote de fundos europeus, PRR, PT2030 e PAC, num momento em que a sustentabilidade passa a ser fator critico para a aprovação de projetos e numa região onde não faltam exemplos de sucesso empresarial, mas que sofre recorrentemente com os impactos climáticos.
Alguns exemplos de inovação para a sustentabilidade levaram casos de sucesso a debate. O caso do Monte do Pasto, grupo dirigido por Clara Moura Guedes que exporta mais de 95% da produção agropecuária e agora já com resultados do projeto "Ethical Meat" que aposta na redução dos níveis de stress dos animais, com os primeiros resultados da experiência terminada há um mês a revelar um aumento de 25% na produtividade da empresa. Quanto a políticas públicas, a empresária defendeu como orientação base, a simplificação drástica de processos.
Já Francisco Gomes da Silva, professor do ISA e sócio-gerente da AGRO.GES falou de um negócio rentável com exigência de novas regras para o processo de produção mais sustentável, mas, em matéria de economia verde, considera que é preciso as empresas terem muito cuidado e não se deixarem levar por critérios demasiado simplistas nos processos de acesso a fundos, ou definição das próprias regras que advém de novas diretivas de Bruxelas que obrigam as companhias a publicar informações sobre os seus impactos a nível ambiental, social e até de direitos humanos.
João Pedro Salema, presidente da EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva entrou no debate, colocando na equação o valor dos recursos hídricos per capita e o fluxo de água dos rios, dados que o permitem concluir que não há falta de água no geral em Portugal, mas está mal distribuída. Identifica as assimetrias no terreno, com o exemplo do Alqueva no Alentejo e Odeleite no Algarve e desafia o poder político a abandonar a forma de gerir herdada dos antigos romanos a céu aberto para uma gestão moderna, fechada, controlada e monitorizada.
Numa paisagem alentejana em que o próprio horizonte mudou de cor, do amarelo dos cereais para os verdes da azeitona, Pedro Lopes, presidente da Olivum - Associação de Olivicultores do Sul lembra que a mudança só foi possível pela construção do Alqueva, mas as ajudas para o setor continuam a ser poucas quando o objetivo é a modernização da atividade.
Atualmente, já se inova sem prejudicar sustentabilidade, no entender de Vasco Cortes Martins, CEO da Nutrifarms (do grupo Sovena), que apostou em projetos eficientes, desde bases de dados com inteligência artificial que permitem prever pragas e colheitas, até à rega a partir de fonte fotovoltaica, ou gestão controlada da água, embora reconheça que mesmo com a PAC e os restantes incentivos, o investimento em regadio é pouco.
Uma visão mais global, onde sustentabilidade de negócios tem de incluir as pessoas, defende Manuel Bio, CEO do Grupo Abegoaria, que confirma que hoje o vinho chega ao copo a partir de uma produção mais eficiente da uva, mas reconhece que apesar da generosidade do pacote comunitário destinado à vinha, há falta de planeamento para diversas etapas, incluindo a promoção externa.
João Nuno Palma, vice-presidente da comissão executiva do Millennium BCP, encerrou a manhã de trabalhos lembrando instrumentos e garantias que o banco ainda tem disponível para as empresas.
No ar ficou ainda a ideia de que os empresários desconhecem neste momento como será feita a gestão do pacote de investimento de cerca de 300 milhões de Portugal no âmbito da PAC - Política Agrícola Comum, uma das questões lançadas a debate por Rosália Amorim, diretora da TSF, moderadora do painel, incluído nesta ronda de eventos que percorrem o país desde o 1.º trimestre e agora realizado numa região que tem mais de mil projetos candidatos a fundos do PRR e PT2030, a que se junta ainda o REPowerEU, a iniciativa de Bruxelas que pretende reforçar o apoio à transição energética e fortalecer a autonomia estratégica" dos 27 Estados-membros.