A Proteção Civil de Viana do Castelo distribuiu, em dois anos, mais de 4200 sensores de fumo à população para "evitar tragédias" com fogo em habitações. O número de ocorrências tem vindo a baixar há cinco anos.
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A Comissão Distrital de Proteção Civil de Viana do Castelo, distribuiu, no últimos dois anos, mais de 4200 sensores de fumo pela população do Alto Minho. O objetivo é "evitar tragédias" com incêndios habitacionais. O dispositivo aciona o alarme quando deteta fumo no interior das habitações, mas nem o efeito é pretendido.
Há quem, como as irmãs Conceição e Glória Rodrigues, residentes na aldeia da Correlhã, em Ponte de Lima, se tenha livrado do aparelho.
"Este ano com tanta chuva e vento, era só fumo [dentro de casa], em vez de ir para fora da chaminé, vinha para baixo e [o alarme] não se calava. Estava sempre pi, pi, pi. E nós, ai é? Anda cá que tu já vais ver o 'pi'. Não estávamos para aturar aquilo", conta Conceição.
A irmã Glória ainda acha menos graça ao barulho do sensor que lhe podia valer em caso de incêndio. "Fazia jeito o quê? Não diga isso. Estava sempre aquilo, pi, pi, pi...", resmunga.
O projeto, financiado por fundos comunitários (ciclo 2007-2013), no âmbito do projeto transfronteiriço ARIEM 112, começou a ser concretizado em dezembro de 2020.
Foram redistribuídos detetores de incêndios domésticos pelos dez municípios do Alto Minho. E a sua entrega à população ficou a cargo das autarquias.
Sem estabelecer uma relação direta de causa efeito com o projeto dos sensores de fumo, o Comandante Operacional Distrital de Viana do Castelo, Marco Domingues, afirma que o número de incêndios habitacionais na região do Alto Minho está em queda há cinco anos consecutivos.
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Em 2022 registaram-se menos 70 incêndios em habitações do que em 2019.
"Não conseguimos estabelecer uma relação direta, de causa efeito, da distribuição de sensores. Que efetivamente o número de incêndios baixou, é um facto, agora poderá estar mais associado à questão das pessoas estarem mais despertas para a autoproteção e alguns cuidados adicionais no manuseio do fogo no interior das habitações", indicou, referindo que o aparelho "só funciona se o incêndio acontecer, ou seja, não vai impedir que o incêndio aconteça". "Para haver fumo tem de haver fogo. A função do sensor é detetar os incêndios, o excesso de concentração de fumo, particularmente quando as pessoas estão no seu descanso durante a noite. É para evitar tragédias", frisou.
Desde 2018, registaram-se 711 incêndios habitacionais no no Alto Minho. Nesse ano ocorreram 164, no ano seguinte 175, em 2020 foram registados 137, em 2021 130 e em 2022, 105. Destacam-se com maior número Viana do Castelo, com 202, Ponte de Lima, com 111, e Arcos de Valdevez com 89.
Em Ponte de Lima, onde em 2021 foram distribuídos 750 detetores de fogo, a TSF bateu à porta de Conceição e Glória, e também da vizinha Maria da Graça Pereira. E também esta já retirou o sensor do teto da sua habitação.
"O alarme saiu fora, porque estava sempre, sempre apitar", ri Maria da Graça Pereira, de 75 anos, lembrando:
"Um domingo a minha filha e o meu genro vieram comer e começou a apitar. Já tinha disparado de manhã e depois calou-se. Depois na hora da comida começou outra vez. O meu genro disse: 'então agora vamos estar aqui com este barulho? Quer que tire?'. E olhe, tirou".
A Presidente de junta da Correlhã, Fátima Oliveira, louva o projeto.
"Pareceu-me muito bem esta iniciativa, até porque vivemos numa freguesia com uma população bastante envelhecida, que ainda utiliza as tradicionais lareiras para se aquecer e para cozinhar. Considerei que este aparelho os iria acautelar um bocadinho", refere, admitindo, contudo, que "parece que os aparelhos são excessivamente sensíveis, porque as pessoas vão-se queixando que apitavam com bastante facilidade".
Sobre a questão, o Comandante Operacional Distrital de Viana do Castelo Marco Domingues, justifica: "Se vamos colocar um detetor de fumo numa cozinha com lareira é evidente que ele vai funcionar sempre. Tem eficiência, por exemplo, num corredor, onde não há fumo e quando este lá chega é porque há um incêndio".
Desde 2020, foram entregues 4225 sensores aos municípios de Arcos de Valdevez (394), Caminha (288), Melgaço (159), Monção (332), Paredes de Coura (159), Ponte da Barca (208), Valença (244), Viana do Castelo (1531), Vila Nova de Cerveira (160) e Ponte de Lima (750).