"Mentira, logro e indecência." Governo empenhado em "enganar o país sobre a TAP"
O líder do PSD fez uma declaração para comentar a audição de Christine Ourmières-Widener, CEO da TAP.
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O líder do PSD, Luís Montenegro, considera que a audição da CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, mostrou que "mais do que mentir" demonstrou que o "Governo e o PS estão empenhados em enganar o país" sobre a companhia aérea.
"É o próprio secretário de Estado das Infraestruturas que participa na reunião que vai preparar as respostas que estes próprios membros do Governo estavam a pedir. Vai fabricar, literalmente, os esclarecimentos que estavam a ser pedidos", afirmou Montenegro.
Além disso, Montenegro defende que esta audição já permite tirar algumas conclusões que demonstram "mera leviandade e negligência" com que o Governo tem gerido o país e a TAP.
"Quero dar conta, em nome do PSD, da indignação pelos escandaloso abusos de posição da maioria absoluta, a confusão entre o Estado e o PS e mais uma grande demonstração da destruição do capital de confiança entre os eleitores e o Governo e uma visão instrumental que o Governo tem do Presidente da República, que aparece, aos olhos de membros do Governo, como um pião do PS, ao serviço da sua agenda. E a violação da moral e ética republicanas evidenciada em reuniões secretas e embustes teatrais para tentar enganar os portugueses", disse o líder do PSD.
Para o social-democrata, a forma como o Governo tem tratado a questão da TAP demonstra "mentira, logro, indecência, displicência, promiscuidade e desonestidade".
"O ex-ministro Pedro Nuno Santos não mentiu só ao dizer que não tinha conhecimento da indemnização a Alexandra Reis. Esteve sempre dentro de todo o processo, mas fingiu nada saber. Ficámos também a saber que o CFO da TAP tinha e tem contactos permanentes com o Ministério das Finanças, contactos semanais pelo que é cada vez menos crível que o Ministério das Finanças não tivesse sido informado de toda a informação da indemnização", sublinhou.
"Governo deixou a TAP a voar às cegas, sem rota nem piloto"
Para Montenegro, o comportamento do Governo não tem sido de "boa-fé", principalmente pela forma como tratou a CEO da TAP, que elogiou para depois "não ter coragem" de lhe dizer o que ia ser transmitido pela televisão. Mas ficou também claro que o Executivo não se preocupa verdadeiramente com a companhia aérea.
"Um mês após a conferência de imprensa em que a CEO da TAP foi demitida, a verdade é que ela ainda está em funções e ontem disso ao país estar desprovida de qualquer orientação para poder exercer o seu lugar. É caso para dizer que o Governo deixou a TAP a voar às cegas, sem rota nem piloto e com o dinheiro de todos nós. Por vontade única do primeiro-ministro e membros do Governo, o PS renacionalizou o capital da TAP e utilizou 3 200 milhões do dinheiro dos contribuintes", lembrou Luís Montenegro.
Referindo também a reunião promovida pelos gabinetes do ministro das Infraestruturas e ministra dos Assuntos Parlamentares com a CEO da TAP na véspera de ser ouvida na comissão de economia, Montenegro considera que são comportamentos ao "estilo donos disto tudo" que expõem um ambiente institucional próprio das "visões totalitárias". E não esqueceu também o e-mail do ex-secretário de Estado das Insfraestruturas Hugo Mendes, que foi tornado público.
"É pura e simplesmente intolerável. Um governante dar indicações para que se altere a data de um voo comercial, prejudicando dezenas de pessoas, porque pensa que com essa atitude vai agradar ao Presidente da República não é digno de uma democracia e expõe o Presidente a uma situação que, decerto, não solicitou. Não interessa, portanto, a TAP nem as pessoas, interessa somente o que é mais favorável ao PS", defende o social-democrata.
E desafia António Costa a dar explicações ao país.
"Não se esconda atrás dos 50 assessores e especialistas em comunicação que lhe dizem para nunca falar da TAP. Não sei se a TAP é tóxica, mas governar é assumir responsabilidades e não sacudi-las para outros. Esta audição demonstrou claramente, mais uma vez, que o Governo e António Costa apenas pensam na sua sobrevivência. Os portugueses merecem e exigem, com urgência, uma posição pública do primeiro-ministro face a estes acontecimentos", pediu o líder do PSD.
Montenegro acusa Governo de estar "infestado de ministros diminuídos politicamente"
Entre as duras críticas ao Governo, Luís Montenegro mostrou-se confiante de que será o próximo primeiro-ministro e disse que, quando isso acontecer, estes comportamentos "não passarão incólumes", apesar de não pedir, diretamente, a demissão dos atuais ministros.
"Como primeiro-ministro, não quereria ter e não vou querer ter um ministro das Finanças, um ministro das Infraestruturas e uma ministra Adjunta diminuídos publicamente. Em primeiro lugar o ministro das Finanças, que é a trave mestra da arquitetura de qualquer governação e isso não é bom para o Governo nem para o país, mas quem decide é o Governo e o primeiro-ministro. Existem condições para eu denunciar, em nome do maior partido da oposição, que o Governo está infestado de ministros diminuídos politicamente e isso é mau para o país e para o Governo. Quem tem de decidir pela permanência é o primeiro-ministro. Quando substituir o primeiro-ministro, que é aquilo que vai acontecer em Portugal, não serei complacente com comportamentos iguais àqueles que, neste momento, estes ministros têm evidenciado. É um Governo cada vez mais embrulhado numa situação política muito pantanosa que não cria condições para uma posição tranquila que responda às necessidades da população portuguesa", rematou.
Christine Ourmières-Widener foi a terceira personalidade, de uma lista de cerca de 60, a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda.
A ainda presidente executiva da TAP contestou o despedimento e acusou o Governo de ter tido "pressa política" para a demitir, segundo a contestação da defesa, citada pela TVI/CNN.