Governo garante "consciência tranquila" nos negócios do hidrogénio e puxa por Bruxelas como ponto a favor
A ministra dos Assuntos Parlamentares assegura que o Governo cumpriu "sempre, sempre, sempre a lei", nos processos de exploração de energia verde que deram origem à Operação Influencer.
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O Governo assegura que cumpriu sempre a lei e que está de consciência tranquila, no que toca aos negócios do lítio, do hidrogénio verde e do data center de Sines. A ministra dos Assuntos Parlamentares defende que Bruxelas dá aval à conduta do Governo português quanto à energia verde, tanto que o país recebeu, esta quinta-feira, luz verde de Bruxelas para que se abram as portas ao transporte de hidrogénio verde de Portugal e de Espanha para o centro da Europa.
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O tema esteve em destaque, esta tarde, no Parlamento, num debate de urgência marcado, no próprio dia, pelo Chega. Foi André Ventura quem abriu as hostes, com perguntas dirigidas ao Executivo socialista, à luz da polémica que levou à demissão do primeiro-ministro.
"Hoje devemos perguntar-nos se o Governo estava genuinamente a querer apostar na energia verde e nas renováveis ou se queria brincar à energia verde, enquanto alguns amigos seus metiam dinheiro ao bolso?", questionou.
"Podemos estar tranquilos, enquanto país, com os negócios de centenas de milhares de milhões de euros do lítio, do hidrogénio e do data center, ou isto vai ser o maior escândalo de corrupção dos próximos anos?", continuou André Ventura.
André Ventura acusou ainda o PS de desprestigiar os órgãos de soberania. Uma declaração que mereceu resposta do Partido Socialista, pela voz do deputado Carlos Pereira. "É, pelo menos, paradoxal que seja o Chega a subir à tribuna e a falar de dignidade e prestígio das instituições", atirou.
Dirigindo-se ao líder do Chega, o deputado acusou-o de adotar sempre a mesma "estratégia": "Procura arrastar toda a gente para a lama, e é muito hábil nisso (...). E, na lama, o sr. deputado André Ventura é melhor do que todos nós". Palavras que não passaram sem que Ventura recordasse a Carlos Pereira o caso da polémica reunião com a ex-CEO da TAP antes de uma audição no Parlamento, em que o deputado participou e que o levou a sair da comissão parlamentar de inquérito da TAP.
Também o PSD fez questão de se demarcar da "estratégia" do Chega, de que falava o PS. "Não precisamos - nem nunca o vamos fazer - de nos encavalitar em processos judiciais para diminuir o nosso adversário político. Isso nós não fazemos", declarou o social-democrata Hugo Carvalho.
Também Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, questionou o súbito interesse do Chega pelas questões ambientais. "Não é um amor de verão, é um amor de outono. Consigo até datá-lo. Parece-me que o interesse do Chega pela proteção ambiental nasceu exatamente no dia 7 de novembro", ironizou a deputada, referindo-se à data em que foi conhecida a investigação da Operação Influencer, que culminou na demissão do primeiro-ministro, António Costa.
"Tanto quanto me lembro, ainda há menos de um ano o Chega defendia furos de petróleo na costa portuguesa", lembrou Joana Mortágua.
Posição semelhante assumiu Paula Santos, líder parlamentar do PCP, que acusou o partido de André Ventura de apenas tentar "ocultar a subserviência" do partido aos grandes interesses económicos.
O mesmo defendeu Inês Sousa Real, deputada única do PAN, que criticou o Chega por "marcar debates de urgência populistas", mas não votar a favor de medidas ambientalistas no Parlamento.
Pelo Livre, Rui Tavares que defendeu que, depois de o Governo cair, o debate em causa é como "andar à maçã no chão". Para o deputado único, o importante é que o hidrogénio não seja apenas "verde", mas também "transparente".
E, para isso, a Iniciativa Liberal, representada pelo deputado Bernardo Blanco, é da opinião que há que dar lugar à desburocratização, tornando as leis mais simples.
Ora para a ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, a transparência e legalidade da conduta do Governo nunca esteve em causa.
"A consciência deste Governo é a consciência tranquila de quem cumpre a lei, de quem protege os interesses do país e de quem atraiu investimento para Portugal", frisou.
"Foi por isso que, esta tarde, a Comissão Europeia considerou como de interesse comum europeu os projetos nacionais do corredor de energia verde. Abrem-se, assim, as capacidades para o financiamento europeu, para que haja transporte de hidrogénio verde de Portugal e de Espanha para a Europa Central", acrescentou.
O primeiro-ministro - que após a demissão do ministro João Galamba, assumiu a pasta das Infraestruturas - esteve ausente, por motivo de viagem para o Dubai, onde vai participar na COP28, a cimeira do clima. das Nações Unidas.