As negociações da ajuda externa serão lideradas pelo Governo e terão como base o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que foi chumbado pela oposição, disse José Sócrates.
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No seu discurso, no encerramento do congresso do PS, que decorreu em Matosinhos, José Sócrates começou por dizer que o encontro mostrou que o partido está «unido» e «mobilizado».
O secretário-geral do PS frisou que a agenda socialista «não é uma caixinha de surpresas feita de ideias vagas», num recado ao PSD.
O socialista voltou a responsabilizar pela actual crise a «extrema esquerda e a direita», que se uniram numa «aliança contra-natura» para «destruir», sob o desejo de «ambição de poder a qualquer custo».
Sócrates sublinhou em que poucos momentos se viu tal «leviandade e calculismo partidário» provocarem tantos danos na política e «consequências devastadoras para a vida das pessoas».
Os autores desta crise preferem que não se fale nisto e não se discuta, defendendo que é tempo de olhar para o futuro e não para o passado, lembrou, acrescentando: «Quem fala assim é quem tem a consciência mesmo muito pesada».
Esta consciência, defendeu, «mostra bem a gravidade do que fizeram e do que tentam agora» esconder. «Era o mais faltava» não falar do passado, frisou.
«Não há fuga possível às responsabilidades políticas por esta crise», reforçou.
«Então o povo não se pode pronunciar nas urnas sobre a responsabilidade dos que arrastaram o país para uma crise politica perfeitamente inevitável?», questionou, mostrando-se assim em defesa do julgamento nas urnas dos partidos que votaram contra o mais recente PEC, que levou à sua demissão.
«Tiraram o tapete ao país» numa altura em que era necessária uma posição com interesse nacional, reforçou, falando numa crise política absurda.
Nesta altura, defendeu, o que mais conta é a capacidade de liderança do Estado, o que requer «responsabilidade», saber propor e saber agir.
«A gravidade da situação actual torna absolutamente necessária que das próximas eleições saia um governo maioritário, um governo forte, que se baseie num verdadeiro compromisso social e politico pela reforma e pela modernização do país», advogou.
Para José Sócrates, «este não é o momento para dispersar votos em partidos que vivem apenas do protesto e que se auto-excluem de qualquer entendimento».
O primeiro-ministro demissionário adiantou que o Governo vai assumir responsabilidades na liderança das negociações com a Europa na ajuda externa, sendo que o PEC4 será a base para essas negociações.
«Os portugueses podem estar seguros, não encontrarão o PS escondido atrás dos arbustos ou a assobiar para o lado», disse, dando origem a nova salva de palmas.
Na visão do líder socialista, «não é tempo para ideias perigosas», para «rupturas» ou para governantes sem experiência, mas antes de garantir o essencial.
«Não é tempo de abdicar de uma Caixa Geral de Depósitos (CGD) pública», disse, entre várias ideias em que se distanciou das posições defendidas pelo PSD.
Perante um pavilhão repleto de bandeiras portuguesas, Sócrates deixou ainda uma palavra aos portugueses, mostrando empatia com os problemas e os sacrifícios que serão pedidos, apesar de não saber o que aí vem.