"Há uma falta de sensibilidade do Governo para a importância de reforçar o SNS"
Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, identifica na TSF as principais dificuldades do Serviço Nacional de Saúde, sendo que o mais importante é a revisão da carreira de administração hospitalar, que, em 40 anos, nunca foi revista.
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Falta de autonomia, subfinanciamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e escassez de recursos humanos. São estas as maiores dificuldades do setor da saúde apontadas por Xavier Barreto, que acaba de ser eleito presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares.
Ouvido pela TSF, o administrador do Hospital de São João, no Porto, afirma que, neste momento, vivem com muitas limitações que provocam problemas graves no funcionamento das instituições.
"Falta autonomia. Os hospitais não podem contratar profissionais de saúde, não podem fazer nenhum investimento, não podem comprar um equipamento de determinado valor sem pedir autorização à tutela de Saúde e à tutela das Finanças. Isto cria problemas graves no funcionamento das instituições. Depois, diria que o fator mais importante nos próximos anos para que o SNS consiga evoluir, desenvolver-se e responder aos seus doentes são os seus recursos humanos e aí também temos problemas. Temos profissionais praticamente todos os dias a abandonar o SNS. O financiamento também é muito importante, os hospitais continuam subfinanciados de forma crónica. É algo que acontece ao longo de vários governos, o que leva à acumulação de dívida. A melhor solução é dotar os hospitais logo à partida nos seus exercícios orçamentos do financiamento de que necessitam", explica.
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Entre as prioridades para este mandato de três anos, Xavier Barreto destaca como mais importante a revisão da carreira de administração hospitalar, que, em 40 anos, nunca foi revista e cria situações que diz serem inaceitáveis.
"Temos colegas a desempenhar as mesmas funções e a serem pagos de maneira diferente, como temos colegas que estão há 20 anos sem serem avaliados, como temos colegas que estão a desempenhar funções de administrador hospitalar, mas que não têm contrato de administrador hospitalar", adianta.
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Xavier Barreto lamenta que o Serviço Nacional de Saúde não tenha sido prioridade dos sucessivos governos, sobretudo, dos responsáveis pela pasta das Finanças.
"Geralmente, na saúde temos tido responsáveis que conhecem muito bem o sistema, estão cientes da necessidade de fazer estas alterações. A senhora ministra da Saúde é uma profissional com uma longa carreira no SNS e que conhece muito bem os problemas e as soluções que têm que ser implementadas. Naturalmente que também estará sujeita a restrições, geralmente por parte do Ministério das Finanças. É uma escolha que temos de fazer: se queremos um SNS capaz, que continue a responder às pessoas, se o queremos, de facto, manter ou não e se queremos manter temos de fazer o investimento necessário. E isto não tem sido bem entendimento pelos sucessivos governos, particularmente pelas pastas das Finanças. Diria que há uma falta de sensibilidade do governo como um todo para a importância de reforçar o SNS", diz.
Xavier Barreto, eleito presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares com 64% dos votos, é pós-graduado em Administração Hospitalar pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa e em Gestão e Direção de Serviços de Saúde pela Porto Business School - Universidade do Porto.
É ainda diplomado em Estudos Avançados em Investigação em Ciências da Saúde, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona e Especialista em Lean Manufacturing pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho.
Foi Membro do Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar e desempenhou funções de administração em unidades hospitalares públicas e privada e foi vogal da Direção da APAH e membro do Comité executivo da European Association of Health Managers (EAHM)
Atualmente, é diretor do Centro de Ambulatório do Centro Hospitalar de S. João EPE e docente convidado da Universidade do Porto.
A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) é a organização com maior representatividade dos profissionais com funções de administração e gestão na área da saúde em Portugal.