Hospitais tentam manter urgências abertas "custe o que custar", mas outubro será difícil
Almada, Santarém, Penafiel, Viana do Castelo, Guarda. São alguns dos hospitais que arriscam ter de fechar as urgências por falta de médicos no mês que vem. Na resposta, "as administrações dos hospitais têm em curso uma ação concertada para manter os serviços abertos, custe o que custar".
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"Em circunstâncias normais já haveria serviços de urgência encerrados por todo o país", garante Helena Terleira, a médica que se lançou para a frente do movimento cívico Médicos em Luta.
Médica internista na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, denuncia "uma estratégia concertada das administrações dos hospitais" para tentarem manter as urgências de porta aberta, "custe o que custar". Quer isto dizer, explica, que estão a deitar mão a todas as formas possíveis para preencher as escalas de serviço, nomeadamente com o "cancelamento de férias".
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O impacto só não é mais notório desde já porque muitos médicos só decidiram aderir ao protesto e recusar mais horas extraordinárias quando estavam já prontas as escalas de setembro. "Em outubro, o caso muda de figura", e será essa a dor de cabeça de muitos administradores hospitalares. Até pode haver hospitais que conseguirão impedir os encerramentos, "mas com risco par aos profissionais e para os utentes".
No final de setembro termina também a majoração no pagamento de horas extra, a medida com que este mesmo ministro da Saúde tentou levar mais médicos a fazer trabalho extraordinário para garantir os serviços de urgência. A medida até pode ser prolongada, mas Helena Terleira acredita que "isso não vai demover-nos do nosso propósito. Estamos num caminho sem retorno".
Nesta altura não há números fechados sobre quantos médicos já aderiram ao protesto que passa por recusar fazer horas extra além das 150 que a lei impõem, mas "em meados de agosto começamos com pouco mais de mil médicos, hoje já poderão ser quatro ou cinco mil".
Dos hospitais o protesto já se estendeu cuidados de saúde primários, "alguns centros e saúde com atendimento permanente já fecharam esse atendimento porque também eles fazem trabalho extraordinário".
O apelo ao ministro da Saúde é mais premente que nunca: "Apresente propostas sérias na mesa negocial e nós paramos o protesto nesse mesmo instante", promete Helena Terleira. Pode é já ser tarde para mudar a impressão deixada por Pizarro, "ainda por cima médica, ainda por cima internista".
E descreve a grande "desilusão": "Não sei se não faz mais porque não pode, não sei se acredita no que está a fazer. Se não acredita, demita-se porque caso contrário ficará na história como o ministro da saúde que mais uniu os médicos... Contra ele."