"Incompetência crónica" na política de obras públicas. Partidos criticam decisões do Governo
O PSD, o PCP, o PAN, o Bloco de Esquerda e o CDS concordam: falta um planeamento coeso nos projetos estruturais do país. E o Barreiro e o Montijo são as maiores provas, argumentam os partidos.
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"Incompetência. Há uma incompetência crónica deste Governo para executar obras públicas. É mesmo de incompetência que estamos a falar." Para Filipa Roseta, deputada do PSD, o caso do terminal do Barreiro revela a incompetência do Governo no planeamento das obras públicas.
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Filipa Roseta, ouvida no Fórum TSF, esclarece ainda a crítica: "Não estamos só a falar do dossiê do aeroporto, mas também do amianto nas escolas, o dossiê da habitação, da ciclovia, até do Metro de Lisboa." A deputada defende que os "obstáculos com que nos estamos agora a deparar deveriam ter sido discutidos em 2017, na pior das hipóteses", já que "o próprio primeiro-ministro diz que isto estava decidido em 2015" e, "de 2015 para cá, não foi feito absolutamente nada".
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A TSF avançou esta manhã que a Agência Portuguesa do Ambiente chumbou o projeto do novo terminal do Barreiro, uma obra de 500 milhões de euros, por haver incompatibilidades com a possibilidade do aeroporto no Montijo. O Governo decidiu por isso respeitar o parecer desfavorável. O Ministério das Infraestruturas garantiu à TSF que aceitará o que diz a Agência Portuguesa do Ambiente, o que impossibilita para já a obra.
"Não fizeram nada, de repente, começam a perceber as coisas e tentam construir narrativas que o mais honesto dos ouvintes tem dificuldade de perceber", argumenta Filipa Roseta, que diz ser "muito importante olhar para os factos". E os factos são, para a deputada, que, em muitos dos casos, nem sequer há projeto de execução para as obras propostas pelos socialistas. "Nem há projeto de execução para o Metro de Lisboa, por isso estão a dizer que vão parar uma obra cujo projeto de execução nem sequer está feito."
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A deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, acredita que o projeto do terminal deve ser reformulado, e diz não ser normal a forma como o Governo encaminha as obras públicas. "Não basta ter a ideia simplista de que, se Lisboa esgota, passa para a margem Sul. É preciso um plano integrado para a zona de Lisboa."
Para a deputada, o recuo do Governo quanto ao Barreiro é uma "decisão saudável, para não pôr em causa a saúde pública e ambiental". Joana Mortágua considera que a "questão das infraestruturas é uma matéria estratégica para o desenvolvimento nacional e também é uma matéria estratégica para a definição do investimento público", e deixa críticas às soluções "disparatadas", como a do Governo de Passos Coelho, que "achou que a Trafaria seria uma boa localização para colocar os contentores".
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Apesar de não apresentar sugestões de lugares, por considerar que se deve decidir tendo por base "estudos sérios e amplos", a deputada do BE salienta que "estes projetos estão a ser pensados de forma avulsa, tendo em conta interesses de médio ou curto prazo que não correspondem ao interesse nacional e à estratégia de desenvolvimento nacional".
"Correspondem apenas à satisfação de, no caso do aeroporto do Montijo, um interesse imediato da Vinci, concessionária da ANA", acrescenta Joana Mortágua, que diz haver "interesse em aumentar a capacidade aeroportuária do país, mas apenas durante o período em que é concessionária das estruturas aeroportuárias".
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O deputado do CDS Filipe Lobo d'Ávila, também ouvido no Fórum TSF, censura a falta de estratégia do Executivo. "Tem que haver uma certa harmonia e estratégia única nas infraestruturas que são essenciais para o país", refere.
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As obras públicas mais relevantes "têm de ser compatíveis", defende ainda. O centrista analisa que "o Governo tem responsabilidades acrescidas nesta matéria", já que já se passaram "vários anos de governação socialista" e isto é um sinal de que não há uma estratégia "coesa das infraestruturas essenciais para o país".
Para André Silva, no entanto, a Agência Portuguesa do Ambiente também toma decisões criticáveis. O deputado do PAN acusa mesmo a agência de ter dois pesos e duas medidas. "Não deixa de ser irónico que, também no parecer, para além deste argumento [da segurança, já que há uma probabilidade de colisão de aviões com gruas com elevada altura, que estariam neste terminal de contentores], se utilize a justificação de que as dragagens previstas para fazer este porto de contentores iriam levantar sedimentos com metais pesados, iriam afetar a qualidade do peixe e quiçá também a atividade balnear."
André Silva enfatiza que os argumentos usados para o Barreiro também deveriam ser usados para as dragagens do rio Sado.
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Para Bruno Dias, do PCP, não há coincidências. E explica: o Governo decide travar o terminal do Barreiro no dia em que a TSF noticia o parecer negativo da APA. "Como dizia alguém em tempos, às vezes há coincidências que coincidem. Há um aspeto interessante que é a coincidência da afirmação da ANA/Vinci de que estaria comprometida a coexistência das duas infraestruturas - aeroporto do Montijo e terminal portuário no Barreiro - e esta decisão anunciada pelo Governo, noticiada pela TSF, de que esta opção por uma infraestrutura portuária naquela zona é para deixar cair."
"Não se deve dar como adquirido e concluído que, relativamente ao interesse do desenvolvimento do nosso país, do investimento público, da diversificação e qualificação das nossas infraestruturas, se deixa cair assim um investimento sem sequer reponderar as opções do ponto de vista técnico e estratégico", assinala também.
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Do lado do PS, José Luís Carneiro garantiu não haver falhas no planeamento das obras públicas. "A prova de que é necessário cuidar de uma outra forma do planeamento relativamente aos investimentos públicos e em relação às infraestruturas rodoviárias, ferroviárias e aeroportuárias tem que ver com a decisão política de constituir um Conselho Superior de Ordens Públicas", frisa o deputado socialista.
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Na perspetiva do deputado socialista, é necessário "determinar, com uma perspetiva de médio e de longo prazo, os investimentos nacionais que devem assentar num amplo consenso nacional". José Luís Carneiro argumenta ainda: "O importante não é as instituições reunirem muitas vezes, é, antes, reunirem e decidirem coisas importantes e aquilo que é estratégico."
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Há mais de 30 anos que o terminal de contentores do Barreiro estava a ser estudado, à semelhança do que acontece com o aeroporto do Montijo.