O secretário-geral do PCP disse hoje que o caso das secretas, em que o ministro Miguel Relvas estará alegadamente envolvido, esconde «um problema mais profundo do Governo».
Corpo do artigo
Durante a manifestação em que participou em Lisboa, Jerónimo de Sousa foi questionado sobre se considera que o ministro Miguel Relvas ainda tem condições para continuar em funções.
«Essa é uma decisão que cabe ao Governo», respondeu Jerónimo de Sousa.
O ministro Miguel Relvas viu o seu nome envolvido do caso das secretas por ter trocado mensagens de telemóvel (sms) com o ex-diretor do Serviços de Informações Estratégias da defesa (SIED) Jorge Silva Carvalho, acusado no âmbito deste processo de acesso indevido a dados pessoais, abuso de poder e violação de segredo de Estado.
Jerónimo de Sousa recordou que o PCP quis ouvir «de uma forma prudente e institucional o senhor primeiro-ministro sobre este escândalo das secretas», uma iniciativa que na altura Passo Coelho «recusou».
Sem se pronunciar claramente sobre uma eventual demissão do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Jerónimo de Sousa sublinhou que «não é catalisando toda a responsabilidade para Relvas que o problema se resolve».
«Há uma responsabilidade primeira do [ministro] Relvas, mas também do Governo e do primeiro-ministro, que tem de responder perante os portugueses por que é que se recusou a prestar declarações, que na altura podiam ter resolvido o problema, e agora se cala», defendeu.
«Podemos encontrar aqui um bode expiatório, podemos encontrar Relvas que tem, de facto, responsabilidades muito sérias, mas o problema é mais de fundo, é o problema de uma política, de um Governo e de um primeiro-ministro», afirmou ainda o secretário-geral do PCP.
Outro dos arguidos do caso das secretas é o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos, que o Ministério Público acusou de corrupção ativa.
No mesmo processo está também acusado João Luis, diretor do departamento operacional do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, de (em coautoria com Silva Carvalho) ter acesso ilegítimo agravado, acesso indevido a dados pessoais e abuso de poder (na forma consumada).
O MP concluiu que os três arguidos «agiram em conjugação de esforços e de intentos» e «sempre de forma livre e deliberada, sabendo que as suas condutas eram contrárias à lei».
Concluiu também que o ex-espião ordenou, entre 7 e 17 de Agosto de 2010, ao arguido João Luís que obtivesse os dados de tráfego do número de telefone (da operadora Optimus) utilizado pelo jornalista Nuno Simas, no período compreendido entre Julho e Agosto de 2010.
O objetivo era saber quais os funcionários das secretas que poderiam ter sido a fonte de informação de uma notícia do jornal Público sobre o mal-estar causado por mudanças de espiões e dirigentes.
O caso já levou à demissão do adjunto (Adelino Cunha) do ministro Miguel Relvas.