
João Soares
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O dirigente socialista considerou que está já instalado «um cisma laranja» dentro do PSD, defendeu a realização eleições antecipadas e pediu ao CDS para que abra uma janela ao país.
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João Soares, ex-presidente da Câmara de Lisboa, falava em plenário, na Assembleia da República, no período de declarações políticas, num discurso em que advogou estar quebrada a confiança entre o Governo e os portugueses e em que defendeu que a atual maioria PSD/CDS é apenas aritmética, sendo, como tal, «uma ilusão».
«O cisma grisalho, inventado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros [Paulo Portas] como forma de segurar parte do seu eleitorado e de atacar o seu colega das Finanças [Vítor Gaspar], já se tornou num cisma laranja com os atuais e antigos dirigentes do PSD a afirmarem diária e repetidamente que este Governo já não tem salvação possível», afirmou.
«O país não precisa de mais metas falhadas no défice, nem de mais desempregados, nem de mais empresas falidas, nem de mais jovens a emigrar, nem de mais falsas promessas de recuperação, nem de mais impostos sobre o rendimento e o consumo», acrescentou, pedindo, neste contexto, a realização de eleições legislativas antecipadas.
Pelo CDS, o deputado João Almeida reagiu a este discurso, sobretudo às referências ao «cisma grisalho» em torno da eventual aplicação da taxa de sustentabilidade sobre as pensões e aos desentendimentos dentro do Governo de coligação.
«Há quem no fundo deseje mesmo que essa medida [taxa de sustentabilidade sobre as pensões] seja concretizada só para abrir uma crise política no Governo, ou para acusar o líder de um dos partidos da coligação [Paulo Portas] de incoerência. Esses, só por uma mera questão de júbilo político, querem sacrificar cerca de 3,5 milhões de pensionistas», disse.
Quanto às divergências de posições entre os partidos da coligação governamental, João Almeida devolveu que João Soares também deixou nos registos políticos posições de divergência face a várias lideranças do PS.
«E o senhor deputado João Soares orgulha-se disso», observou João Almeida.
Na resposta, João Soares pegou numa imagem pouco antes construída pelo deputado do PCP António Filipe, segundo a qual o CDS estaria neste momento a tentar abrir uma janela para escapar a um incêndio que poderá surgir dentro do Governo.
«Eu penso que esse incêndio já existe no Governo. Espero que o CDS abra uma janela ao país», afirmou João Soares, no contexto de uma intervenção sobre a necessidade de Portugal mudar de Governo.
Pela parte do PSD, o vice-presidente da bancada Nuno Encarnação apontou contradições no discurso de João Soares sobre a natureza do voto popular.
«Enquanto presidente da Câmara de Câmara de Lisboa nunca desconfiou do voto popular que recebeu. Esta maioria parlamentar não pode ser todos os dias posta em causa», advertiu, numa intervenção em que também apontou para o aumento verificado na criação de empresas (mais 14800) como sinal de confiança na evolução do país.
«Os portugueses não estão preocupados com taticismos políticos, mas sim que haja bom senso nas relações entre a maioria parlamentar e o maior partido da oposição», frisou Nuno Encarnação.
Logo a seguir, no entanto, a deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto rejeitou a tese sobre a natureza do voto popular apresentada por Nuno Encarnação.