Fora da cozinha e com o dedo na app. "Cresce a obesidade e a hipertensão entre os mais jovens"
À TSF, a nutricionista Inês Santos Remígio explica que as aplicações de entregas de comida não fornecem as melhores opções alimentares. "Não podemos controlar a quantidade de sal, escolher o azeite em vez do óleo. São pontos-chave"
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A Fundação Francisco Manuel dos Santos analisou os hábitos dos portugueses na hora das refeições e concluiu que as refeições confecionadas fora de casa estão a ganhar terreno, sobretudo entre os jovens.
A cozinha está cada vez menos frequentada, e 90% admite mesmo que a primeira refeição do dia é comprada fora de casa. O estudo concluiu igualmente que uma alimentação baseada em produtos que não são confecionados em casa está associada a um menor nível de atividade física.
Um quarto da população jovem adulta dedica pouco tempo, ou nenhum, a cozinhar e tende a desvalorizar os benefícios práticos de confecionar e consumir refeições em casa regularmente, valorizando mais a convivência. A socialização e o entretenimento proporcionado pelo consumo alimentar não-doméstico são fatores valorizados pelos jovens no momento da refeição
A nutricionista Inês Santos Remígio realça, na TSF, que o afastamento dos jovens dos hábitos alimentares tradicionais já tem impactos nos mais novos.
"Se analisarmos a crescente tendência das doenças crónicas como a obesidade ou a hipertensão, aparecem em idades cada vez mais jovens. As novas gerações afastam-se dos costumes tradicionais e dos benefícios da dieta mediterrânica, que valoriza muito as técnicas culinárias", explica a nutricionista.
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O estudo revela ainda que é ao pequeno-almoço e ao lanche que se ingerem mais alimentos não preparados em casa (90%).
A nutricionista explica que também é uma questão de "tradição": "Os portugueses têm muito o hábito de tomar o pequeno-almoço fora. Isso não quer dizer que não se façam boas escolhas fora de casa. Aqui o que me preocupa é andarmos sempre a correr e preferimos levar umas bolachas a uma sandes de queijo. É uma questão de organização e de escolha de hábitos", acrescenta a nutricionista.
Inês Santos Remígio explica que as aplicações de entrega de comida não fornecem as melhores opções alimentares.
"Quando abrimos as aplicações, as primeiras opções e as preferências não são as mais saudáveis. Não podemos controlar a quantidade de sal, escolher o azeite em vez do óleo. São pontos-chave que não conseguimos controlar quando encomendamos fora", acrescenta.
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As famílias com rendimentos mais elevados gastam o dobro em alimentação e encomendam comida para casa oito vezes mais do que os agregados com menores rendimentos.
O estudo da Fundação Manuel dos Santos sublinha ainda que, das milhares de decisões que tomamos todos os dias, cerca de duas centenas são dedicadas aos atos de comer e beber.