Jovens qualificados recebem o salário mínimo. "Mercado de trabalho não acompanhou evolução educativa"
À TSF, coordenador do Observatório do Emprego Jovem revela que, em 2020, 35,5% dos jovens recebiam o salário mínimo nacional, um fenómeno que se explica com a evolução dos rendimentos, mas também com a falta de diversidade da economia.
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No ano passado, Portugal foi o país da União Europeia com a maior taxa de desemprego jovem. Dados do Eurostat revelados esta segunda-feira apontam que a taxa de população entre 15 e 29 anos sem trabalho era de 15,9% em 2021, mais 2,9 pontos acima da média europeia. O mercado de trabalho para os mais jovens encontra-se a recuperar da crise provocada pela pandemia. Em declarações à TSF, o coordenador do Observatório do Emprego Jovem explica que em 2020 a percentagem de jovens trabalhadores a receberem o salário mínimo nacional aumentou.
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"Notamos que a percentagem de jovens a receberem o salário mínimo é de 35,5%, quando por exemplo em 2007 era de cerca de 18%. Isto é um fenómeno importante que tem que ver como é óbvio com o aumento do salário mínimo ao longo dos últimos anos, mas que provocou uma situação em que os outros salários não evoluíram na mesma proporção. Os jovens são particularmente afetados e isso é importante estudar num quadro em que os jovens são muito mais hoje do que eram em gerações anteriores", aponta Paulo Marques.
O investigador do ISCTE explica que o mercado de trabalho em Portugal não se transformou com a evolução "significativa nos índices educativos" registados nos últimos 20 anos. "O que nós temos tido é um conjunto de setores que são motrizes da atividade económica, que têm sido importantes, como o turismo, comércio, restauração ou imobiliário. Agora, a grande questão que se coloca é que estes setores não vão aproveitar as pessoas altamente qualificadas que estão a sair das nossas universidades."
Melhores condições de vida no estrangeiro
Por isso, com o dilema de não conseguirem emprego atrativo e de acordo com a sua formação, muitos jovens, em início de carreira e com desejo de construir família, acabam por emigrar à procura de melhores condições de vida. "As pessoas numa fase inicial da vida, que ainda não têm filhos nem compraram casa, estas pessoas tem tendência a emigrar com mais facilidade, ainda por cima com salários melhores", refere Paulo Marques, salientando que é preciso perceber que "para podermos aproveitar as gerações mais qualificadas temos que lhes oferecer oportunidades de vida melhores do que um emprego em setores que não estão alinhados com o seu nível de qualificações".
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Para podermos aproveitar as gerações mais qualificadas temos que lhes oferecer oportunidades de vida melhores
O coordenador do Observatório do Emprego Jovem sugere por isso medidas no âmbito do Orçamento do Estado que contemplem melhorias nas condições de vida para os mais jovens que estão "numa posição mais vulnerável" no momento de entrada no mercado de trabalho. Para além dos estágios profissionais, Paulo Marques sugere medidas como o IRS Jovem ou facilidades no crédito à habitação, mas o coordenador pede também reformas estruturais que ajudem a desenvolver setores que absorvam o talento que há em Portugal.
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"Não faz sentido que fundos comunitários ou do PRR sejam canalizados para financiar a expansão do turismo ou de setores que por si só já têm um peso muito grande, eventualmente excessivo. São setores importantes, criam emprego, mas se calhar esses fundos têm de se virar para outras áreas para que no longo, médio prazo nós consigamos ter mudanças estruturais que nos deem maior relevância que criem emprego com mais estabilidade, com melhores salários, com melhor correspondência entre qualificações e o perfil das pessoas. Setores ligados às engenharias informáticas, programação, atividades científicas, áreas da saúde com maior complexidade e áreas ligadas ao ensino."