"Governo tem de olhar para idosos como pessoas." Lar de Albergaria-a-Velha só agora vai ter testes
O autarca de Albergaria-a-Velha critica a demora na chegada dos testes de despiste da Covid-19 ao lar onde, na segunda-feira, uma idosa morreu da doença.
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Os utentes e funcionários do lar em Albergaria-a-Velha onde morreu uma idosa com Covid-19 vão fazer, esta quinta-feira, os testes para verificar se estão infetados com o novo coronavírus.
Os 25 utentes e funcionários do lar estavam desde segunda-feira fechados no lar, à espera de uma decisão. Além da idosa, vítima mortal, está já confirmado que mais dois utentes foram infetados pelo vírus, mas faltava luz verde para avançar com os testes a todos os que ainda se encontravam na instituição.
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Em declarações à TSF, o presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, António Loureiro, adianta que seis dos testes serão realizados pelo Serviços Nacional de Saúde (SNS) e que os restantes 19 ficarão a cargo de uma empresa privada contratada para o efeito.
A autarquia de Albergaria-a-Velha assumiu, desde o início do processo, o pagamento dos testes (cada um vai ter um custo de 150 euros).
O autarca lamenta, no entanto, que a resposta à situação de urgência no lar não tenha chegado mais cedo.
"Entendo que, no momento em que o país está a viver, tem de haver um racionamento dos testes. Todos nós entendemos. Agora, este era daqueles casos prioritários. Lamento profundamente pela angústia, pelo esforço e pelo perigo em que se colocou um conjunto de utentes e as próprias profissionais [do lar de idosos]", declarou António Loureiro.
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António Loureiro sublinha que o atraso dos testes neste lar de Albergaria-a-Velha pode ter propagado a doença, uma situação que deveria ter sido evitada.
"Devia ter-se feito esta triagem e a divisão [dos idosos e dos funcionários do lar] em dois edifícios, em função do estado clínico de cada um e, para isso, teria sido extremamente útil ter feito os testes na segunda-feira", apontou.
"O controle de entrega dos testes não foi o correto. Estivemos a prolongar um problema", concluiu.
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"É humanamente impossível continuar"
Lurdes Reis, diretora técnica do lar, afirma que é humanamente impossível continuar a trabalhar e pede uma solução urgente para os utentes.
Fechada no lar há quatro dias, com mais cinco funcionárias, Lurdes Reis dá conta do estado de exaustão em que estas trabalhadoras se encontram.
"Neste momento, já apresentamos um nível de cansaço extremo. Estamos mesmo muito cansadas física e mentalmente", adiantou a diretora técnica do lar, ouvida pela TSF.
"As horas de descanso são muito reduzidas porque temos de garantir sempre a assistência aos nossos utentes, que tem de ser feita 24 horas por dia", lembrou. "Claro que não os podemos abandonar, como é óbvio, mas, humanamente, já não temos capacidade para continuar nesta situação por muito mais tempo."
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Lurdes Reis alerta que os idosos que estão na instituição precisam de assistência médica e que já começaram a ter de ser hospitalizados.
"Precisávamos, nesta situação, que [os idosos] tivessem acompanhamento clínico, que nós não conseguimos prestar. Ainda hoje de manhã enviei um novo utente para o hospital, que apresentava febre e dificuldade respiratória. E, se isto continuar assim, vamos ter de enviar utentes para o hospital dia após dia", avisou.
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Perante a falta de uma resposta, a diretora técnica do lar deixa uma mensagem ao Governo: que comece a olhar para os idosos "como pessoas".
"Tem de haver medidas concretas. As promessas têm de deixar de ser promessas, porque a situação que aqui se viveu é indescritível", afirma Lurdes Reis. "Não vale a pena fazer conferências de imprensa, dia após dia, com respostas vagas, a remeter sempre para os planos de contingência das instituições. As instituições não estão preparadas para esta situação. Ninguém está."
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Notícia atualizada às 11h07