Legionela: Ministério pede a enfermeiros para não fazerem greve nas datas marcadas
O Governo receia que a paralisação possa comprometer a prestação dos cuidados de saúde numa altura em que o país está confrontado com um surto de legionela. A direção do Sindicato dos Enfermeiros reúne-se ainda esta manhã para decidir que resposta dar.
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O Ministério da Saúde pediu ao Sindicato dos Enfermeiros para reconsiderar as datas da greve nacional, marcada para esta sexta-feira e para dia 21, tendo em conta o cenário «extraordinário» do surto de legionela.
Numa carta, com data de quarta-feira e a que a agência Lusa teve acesso, o Ministério afirma recear que a greve, a acontecer nos dias anunciados, «possa comprometer a prestação de cuidados de saúde», considerando que estão em causa «necessidades em saúde indispensáveis e inadiáveis».
«Sem questionar o direito constitucional à greve, solicita-se que, tendo em conta o interesse público e o cenário epidemiológico extraordinário atual, se dignem avaliar a oportunidade da paragem laboral já decretada, as consequências nos cuidados prestados às pessoas e a perceção social sobre a greve e os seus riscos», refere a carta assinada pelo secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira.
Ouvida pela TSF, a direção do Sindicato dos Enfermeiro Portugueses (SEP) adianta que vai reunir-se de emergência ainda esta quinta-feira de manhã, para decidir qual a resposta a dar ao Governo.
No entanto, Guadalupe Simões, presidente do Sindicato, já disse estranhar que o Secretário de Estado faça este apelo ao Sindicatao «quando, durante mais de um ano, o Sindicato tem vindo a fazer um apelo junto do ministerio pararesolver problemas dos enfermeiros que continuam por resolver».
Aquela responsável lembra que os enfermeiros «funcionam praticamente nos mínimos durante todos os dias do ano em praticamente todas as instituições».
Na carta, o Ministério argumenta que o surto de legionela «ainda não se encontra debelado, podendo ainda aumentar o número de doentes com necessidade de cuidados de saúde» bem como a necessidade de recursos humanos, nomeadamente enfermeiros.
Indica ainda que não é possível estimar a evolução do número de infetados por legionela, nem quantificar o número de enfermeiros indispensáveis para assegurar os cuidados de saúde exigidos.
«(...) nesta situação de desafio excecional torna-se ainda mais importante que todos os agentes do setor demonstrem o grau de profissionalismo e responsabilidade que tem sido a chave do sucesso na resposta aos desafios do momento», refere também a carta dirigida ao presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).
O SEP anunciou no início da semana uma greve nacional de dois dias, esta sexta-feira e dia 21 deste mês, em protesto pelos cortes salariais nas horas extraordinárias, exigindo a progressão na carreira e a reposição das 35 horas de trabalho semanais.
O surto de legionela com origem no concelho de Vila Franca de Xira infetou, até quarta-feira, 302 pessoas. Segundo dados oficiais, estão confirmadas cinco mortes enquanto quatro óbitos estão em investigação. A confirmarem-se os quatro casos, sobe para nove o número de mortos.
A doença do legionário, provocada pela bactéria Legionella pneumophila, contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.