Lembrar quando as pessoas estavam "emotivas e próximas". Everyday Covid renasce em exposição
Entre março e junho, um conjunto de fotojornalistas e de outros fotógrafos profissionais registou o dia-a-dia de um Portugal fechado em casa. Agora esse espólio de 635 fotografias vai ser exposto ao público.
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É um caminho que acontece frequentemente: quando uma fotografia marca, a imagem passa para livro e até para exposição. O projeto Everyday Covid, que retratou no Instagram a vida diária dos portugueses durante a pandemia, vai ser exposto ao público e terá também uma versão em livro.
Entre março e junho, um conjunto de fotojornalistas e de outros fotógrafos profissionais registou o dia-a-dia de um Portugal fechado em casa. Um espólio de 635 fotografias que eternizam as famílias e as casas de quem as fotografa, ruas desertas e até mesmo hospitais onde profissionais de saúde enfrentavam um dos maiores desafios sanitários da vida moderna.
Gonçalo Borges Dias, um dos autores do projeto, explica à TSF que o mérito da iniciativa se centra na capacidade de "mostrar uma forma muito heterogénea de retratar a nossa sociedade e uma forma muito homogénea de a retratar em termos de qualidade fotográfica". O fotógrafo considera que o sucesso das imagens se deveu a "um enorme cuidado e respeito pelos nossos, ou seja, pela forma como o diário foi visto por cada profissional no seu seio familiar, dentro da sua casa", bem como à "atenção e cuidado redobrados no exterior em relação ao retrato e responsabilidade social".
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Apesar de a pandemia ainda ser uma realidade, o Everyday Covid chegou ao fim quando o desconfinamento voltou a distanciar as pessoas nos seus objetivos e sofrimentos comuns. É um espírito "que já desapareceu quase por completo", daí o término da iniciativa, regista Gonçalo Borges Dias, que enaltece a entrega dos profissionais durante os três meses em que fotografaram Portugal à luz de uma realidade única. "Não é necessário um talento ímpar, mas que as pessoas o façam com uma vontade extra, com uma sensibilidade inerente à fase que se viveu naquela fase de novidade, em que as pessoas se sentiam mais emotivas e mais próximas umas das outras."
Porque fotografar "não é um cliché", alerta Gonçalo Borges Dias, "isto é a forma como nós vemos o mundo e é tão melhor quanto mais diferente for a forma como dez pessoas o veem", ainda que todas se encontrem no mesmo lugar. "Podemos transmiti-lo com mais arte, com mais encanto, ou de uma forma mais crua e mais direta, mas é sempre uma mensagem sem igual", defende o fotógrafo.
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Numa altura em que todos se sentem fotógrafos, pela facilidade que inspiram as novas tecnologias, "o acesso rápido ao digital e a facilidade de tratar uma imagem com filtros, por exemplo", fala sempre mais alto ou conta sempre mais a imagem que, com menos artifícios, faz inquietar, conforme garante Gonçalo Borges Dias: "Uma fotografia é tão mais nossa quanto mais natural ela for, por isso, no fim, acabamos sempre no local de partida."
"Apesar de sermos muitos e com muitos aparelhos, a base tem de lá estar. Se não estiver lá, não se gera a confusão e o caos fotográfico, aquilo tem de passar alguma coisa. Não pode ser algo inócuo, sem substância, é preciso fazer mossa." O Everyday Covid fez "mossa" e continuará a desafiar reflexões. É o que espera o fotógrafo e autor do projeto, que encara com especial "prazer ver tanta gente a beber de imagens e a querer partilhar imagens".
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