Maior conhecimento regional deve traduzir-se em "decisões" de investimento, mas é preciso "vontade política"
No Fórum TSF, Sebastião Feyo Azevedo, fundador da Associação Círculo de Estudos do Centralismo, vinca a diferença entre "ler a História" e estar nos "locais da História"
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O ministro das Infraestruturas deve conseguir "transformar" o maior conhecimento regional, depois da viagem pelos concelhos da Estrada Nacional 2 (EN2), em "decisões que concretizem investimentos de desenvolvimento" no interior do país. Mas, sem "vontade política, as coisas não funcionam". Este é o alerta deixado pela Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e pela Associação Círculo de Estudos do Centralismo no Fórum TSF desta terça-feira.
O vice-presidente da ANMP, Ribau Esteves, considera que é preciso tempo para se perceber se o Governo tem feito o suficiente pelo interior de Portugal. O social-democrata, que ainda lidera a Câmara Municipal de Aveiro, espera do Executivo mais do que palavras.
[A viagem pela EN2] é um desafio que tem uma intenção e um objetivo de consequência, que é bom não perdermos de vista. A intenção é que os governantes aprofundem o conhecimento do país real e ninguém pode governar bem algo se não conhecer. Não vale a pena.
Ribau Esteves acrescenta, por isso, que depois do périplo pela EN2 do ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, é preciso encontrar a "consequência do conhecimento" adquirido.
"É a minha profunda convicção que o objetivo do ministro é transformar esse maior conhecimento em decisões que concretizem investimentos de desenvolvimento", revela.
Também para o fundador e primeiro presidente da Associação Círculo de Estudos do Centralismo, Sebastião Feyo Azevedo, é importante que os ministros possam "sentir" verdadeiramente os problemas regionais.
"É evidente que nós podemos sempre dizer que os autarcas deviam e podiam ter uma porta aberta para falar com os políticos, mas é muito bom que eles vão ao terreno porque as pessoas estando no terreno tendem a sentir as coisas. É como ler a História e estar nos locais da História", assinala no Fórum TSF.
Apesar de "saudar" a iniciativa do governante de visitar os 35 concelhos por onde passa a EN2, assegura que é mais importante haver "vontade política" para uma verdadeira aposta no interior do país.
"Estamos perante um problema muito complicado, que em primeiro lugar exige vontade política. Não vale a pena estarmos com conversas. Ou há vontade política de descentralizar e há vontade política de fazer desenvolver o interior, ou então as coisas não funcionam", atira.
Miguel Pinto Luz vai percorrer os 35 municípios da EN2 durante quatro dias, entre terça e sexta-feira, para identificar necessidades locais no setor da mobilidade e habitação, mas também no turismo. "'Ver para Fazer' é o mote deste roteiro ministerial por uma das estradas mais emblemáticas do país, que percorre o interior de Portugal de Norte a Sul", sendo que o itinerário inclui "paragens e encontros com os autarcas" dos municípios servidos pela EN2, com vista a "combater a injustiça territorial".
O ministro será acompanhado pelo secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Silvério Regalado, e também, em alguns troços do roteiro, pelo secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Pedro Machado.